O ministro timorense da Justiça adianta que foram roubados documentos importantes do seu gabinete durante o saque desta terça-feira no Ministério da Justiça, em Díli. A capital continua a viver em clima de insegurança, com as pilhagens e carros e casas incendiados. A ONU fala em 25 mil novos refugiados
«Ainda não verifiquei os documentos um a um, mas levaram documentos e computadores do meu gabinete e do gabinete do vice-ministro. Levaram documentos importantes», revelou à Lusa o titular da Justiça, Domingos Sarmento.
Sobre o roubo de documentos no edifício da Procuradoria-Geral da República, que também foi saqueado, Domingos Sarmento remeteu para o Procurador-Geral, Longuinhos Monteiro, um esclarecimento sobre a importância dos documentos que desapareceram.
Esta manhã um grupo de civis armados com catanas e outras armas brancas destruiu janelas e portas no edifício da Procuradoria-Geral e entrou no gabinete da Unidade de Crimes Graves, responsável pelas investigações de crimes cometidos em 1999. De acordo com a TSF, foram roubados documentos associados ao período antes e depois do referendo de 30 de Agosto de 1999, em que morreram cerca de 1.500 timorenses, mas esta informação carece ainda de confirmação oficial.
No referendo, organizado pela ONU, a maioria dos timorenses votou a favor da independência de Timor-Leste, pondo fim a 24 anos de ocupação pela Indonésia.
Nos últimos dias, grupos de civis têm saqueado e incendiado residências e edifícios públicos em Díli e várias pessoas foram mortas, naquela que é considerada a pior crise no país desde que Timor- Leste se tornou independente a 20 de Maio de 2002. Face à deterioração da segurança na capital, as autoridades timorenses solicitaram ajuda militar e policial à Austrália, Nova Zelândia, Malásia e Portugal. Uma força de 1.800 militares australianos encontra-se já no terreno, bem como entre 200 e 250 efectivos da Malásia. Uma companhia de 120 militares da GNR deverá seguir para Díli ainda esta semana.
60 mil refugiados
A situação que se vive em Timor-Leste nas últimas semanas provocou cerca de 60 mil desalojados, cujas necessidades de água e alimentos têm estado garantidas, lê-se num relatório das Nações Unidas, a que a Lusa teve acesso.
O documento, do gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, datado de segunda-feira, refere que o recrudescimento da violência no país a partir de 24 de Maio foi responsável por cerca de 25 mil refugiados do total estimado de 60 mil.
As necessidades de água e alimentação têm tido resposta até agora, faltando essencialmente instalações sanitárias e abrigos, com a proximidade de chuvas fortes a fazer recear surtos de malária e de dengue.
A situação mantém-se calma nas áreas fora da capital timorense, indica o relatório, tendo-se registado uma diminuição no nível da violência desde a chegada da força militar internacional liderada pela Austrália, no dia 25 de Maio.
VISÃO - 30.05.206