Wen Jiabao visitou sete países para preparar a cimeira China-África
Faz amanhã uma semana que o primeiro ministro chinês, Wen Jiabao, terminou no Uganda, uma viagem de dez dias a África, durante a qual visitou sete países e assinou 72 acordos bilaterais.
Há dois meses, o Presidente Hu Jintão tinha estado em Marrocos, Nigéria e Quénia com o mesmo objectivo: explicar a nova política da China em África e preparar a Cimeira China-África, que se realizará em Pequim, em Novembro.
O governo chinês decidiu fazer de 2006 o «Ano de África na China», aproveitando o 50º aniversário das relações sino-africanas. Em 1956, foi o Egipto o primeiro país do continente a estabelecer relações diplomáticas com a China Popular.
Desde então, todo o continente africano alcançou a independência e a quase totalidade dos estados africanos tem hoje relações e acordos bilaterais com a China.
Na África do Sul, Wen Jiabao recordou que em meio século o seu país desenvolveu cerca de 900 projectos em África, recebeu 18000 estudantes africanos, de 50 nacionalidades, nas suas universidades e enviou 16 000 médicos e pessoal medical a 47 países africanos, entre outros técnicos e especialistas.
Estas relações, essencialmente políticas e diplomáticas, com uma forte componente ideológica - enquadradas na política externa maoísta «contra os dois imperialismos, americano e soviético - nunca suscitaram no Ocidente as paixões e a preocupação que despoletou a «nova estratégia chinesa para os países em desenvolvimento» baseada em investimentos, créditos e comércio.
A Declaração de Pequim, de Outubro de 2000, que criou o Fórum para a Cooperação China África, já definia as grandes linhas de uma parceria baseada no principio dos «dois ganhadores» (winer to winer) , reafirmado em Janeiro de 2006.
Desde o inicio do século , as relações comerciais entre a China e África aumentaram de 268 % e de 39% nos dezprimeiros meses de 2005. As exportações africanas ascenderam a 16 900 milhões de dólares e as importações africanas de produtos chineses a 15 250 milhões.de dólares.
Segundo a maioria dos analistas, a ofensiva chinesa no continente negro se deve essencialmente à «caça» as matérias primas, especialmente petróleo e gás, para sustentar o formidável crescimento industrial da China.
É verdade que a maioria dos acordos bilaterais entre Pequim e os estados africanos têm uma componente energética (Sudão, Nigéria, Angola, Guiné Equatorial, Gabão), que 25 % da produção angolana de crude e 30 % do petróleo do Golfo da Guiné partem para algum dos portos chineses.
Mas a China tem outros argumentos para seduzir os parceiros africanos : créditos a largo prazo e baixos custos, empresas especializadas em quase todos os sectores, preços competitivos, não só para produtos básicos como têxteis, vestuário, calçado, mas também para equipamentos industriais, transportes, comunicações, informática.
«Países que não são produtores de petróleo, ou não tem problemas nas relações com o Ocidente , como Africa do Sul , estão interessados em estreitar as relações comerciais com a China», observou um analista canadiano porque Pequim oferece uma hábil combinação de contratos públicos e privados, cooperação e assistência técnica, sem condições politicas nem ingerência nos assuntos internos de cada país.
São companhias privadas chinesas , sozinhas ou em sociedade com parceiros locais que estão construindo auto-estradas, oleodutos, caminhos de ferro, hospitais, portos , habitações e complexos desportivos em todo o continente, financiados com empréstimos chineses. Só no Sudão, os investimentos chineses já ultrapassaram os 4 000 milhões de dólares. Angola, segundo fornecedor de petróleo a China é também o primeiro destinatário das ajudas externas chinesas a fundo perdido.
Nesta viagem a África, Wen Jiabao procurou também tranquilizar os parceiros africanos, inquietos dos efeitos devastadores das exportações chinesas a baixo custo para as suas frágeis industrias, nomeadamente nos sectores têxtil, vestuário e calçado, que já provocaram a perda de dezenas de milhares de empregos na Africa do Sul Nigéria e Zâmbia.
Anunciou que na cimeira de Pequim, serão estudados mecanismos de protecção para as industrias africanas e para criação de empregos. O financiamento de refinarias e de fabricas de gás liquefacto na Nigéria e Angola vão neste sentido.
«Estamos mais interessados em vender televisores, telemóveis e frigoríficos que t-shirts», diz Wen Jiabao que, na Tanzânia, visitou o cemitério aos «heróis chineses» : mais de 70 engenheiros e técnicos chineses que perderam a vida durante a construcção da via férrea entre a Tanzânia e a Zâmbia.
Nicole Guardiola - EXPRESSO AFRICA - 30.06.2006