Foram publicados os números da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento, que os países desenvolvidos
assumiram. Ha mais de 30 anos, a ONU votou o “compromisso dos 0,7 por cento”: os países comprometia-se a dar 0,7 por cento do seu Produto Interno Bruto (PIB) para o desenvolvimento de povos e países mais carenciados. Esta decisão tem vindo a ser reafirmada: em 1992, na agenda 21 da Cimeira do Rio; em 2002, no Consenso de Monterey e também na Conferencia sobre o Desenvolvimento Sustentável de Joanesburgo.
Mas tem sido uma via sacra de aldrabices, já que apenas cinco países são, e tem sido, cumpridores: Noruega (0,93 por cento), Suécia (0,92 por cento), Holanda (0,82 por cento) e Dinamarca (0,81 por
cento).
O caso mais flagrante, dada as verbas envolvidas, é o dos Estados Unidos da América, com 0,22 por cento. E se este valor é muito superior ao do ano anterior (0,16 por cento), isso deve se ao facto de terem sido contabilizadas, como alias fizeram os outros países, as verbas correspondentes ao perdão da divida externa.
Para lá desta desonestidade de quem diz que dá e depois não dá, ha outros aspectos que convém não esquecer. Uma ideia de que muitos governos tem é que já dão muito. Mas basta comparar os 15 mil
milhões de dólares dados pelo EUA em 2004 com os cinco mil milhões gastos por mês na guerra do Iraque ou com os 450 mil milhões do seu orçamento militar. Uma simples divisão mostra que por cada dólar para o desenvolvimento e qualidade de vida sobram 30 para a morte e para a destruição. E este raciocínio aplica se a todos outros países, embora com proporções inferiores.
Alem disso, destas verbas sai uma grossa fatia para financiar todas as estruturas envolvidas e pagar a peritos, outra parte para comprar comida nos próprios países dadores (claro!...) e outro ainda (e nada pequena) para pagar a divida e os seus juros.
Estes dólares “perdem se” antes de poder ajudar o desenvolvimento, já que o desenvolvimento implica
investimentos a longo prazo em infra estruturas, saúde, educação, comercio, agricultura.
Dados disponiveis indicam que o montante anual, por cada Habitante de Africa Subsariana, foi de a penas 30 dólares em 2002. Desta modesta verba, quase cinco dólares foram na verdade para consultores dos países doadores, mais de três destinaram se a comprar alimentos e outras ajudas de
emergência, quatro foram para o serviço da divida e mais cinco para operações de alívio da dívida. Só o restante, 12 dólares chegou á África. Isto é a cada africano corresponderam exactamente 3,3 cêntimos por dia!
Saiba mais
In revista Além-Mar
PÚNGUÈ - 29.06.2006
NOTA:
Tudo isto é verdade. Mas se "nós não fizermos nada por nós mesmos" serão os outros que o farão?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE