Por Machado da Graça
Exmo Sr. Presidente da República
Excelência
Perdoe dirigir-me a si desta maneira informal, mas a questão de que gostaria de falar consigo é francamente perturbadora e não dá para delongas protocolares.
Tudo começa com um SMS que recebi, devidamente assinado, em que se diz o seguinte:
“ Um miúdo bate dois carros, no Coconuts, às 3h 30m de Sábado. O dono do carro de trás seguiu-o a tiro e, em frente ao hospital tiram-no do carro, algemam-no e disparam contra o carro vazio, arrastam-no a socos e dão-lhe três tiros mortais de AKM. Os assassinos são guarda-costas da filha de A. Guebuza Guebuza.”Falando com quem me mandou o SMS fiquei a saber que o moço assassinado se chamava Abdul Faruque e trabalhava numa casa comercial da baixa da cidade.
Ora, Excelência, a ser verdade esta história, e a idoneidade da minha fonte leva-me a acreditar que sim, que o é, a questão toca-lha a si, pessoalmente, por mais do que uma razão.
A primeira prende-se com o facto de a filha de Vossa Excelência andar acompanhada por guarda-costas armados de espingardas de guerra.
Ao contrário de outras pessoas que ouvi, eu penso que é legítimo a filha do Chefe de Estado ter protecção especial. Para que o pai não se torne vulnerável a qualquer ataque realizado através da filha.
Já não posso concordar que os guarda-costas da sua filha andem armados de espingardas de guerra, como é o caso da AKM. Parece-me uma arma completamente despropositada para as funções a desempenhar por esses elementos.
A segunda razão é o facto de V. Excia. ser o Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança. E, portanto, também da unidade que protege a segurança dos responsáveis. À qual devem pertencer os assassinos do jovem Faruque.
E digo assassinos porque, da forma como as coisas são relatadas, se trata claramente de um assassinato.
O facto de um jovem, à porta de um lugar de diversão, ter batido com o seu carro em outro ali estacionado não pode, de maneira nenhuma, justificar que ele seja perseguido pela cidade a tiros e depois seja algemado, agredido e abatido a sangue frio.
Que país é este, Excelência, em que uma coisa destas pode acontecer?
Que tipo de formação recebem os membros daquela unidade para depois agirem desta forma?
Pondo a coisa de forma mais pessoal, senhor Presidente, perguntarei se acha que a sua filha está em segurança protegida por assassinos?
Outra coisa que me perturba é a tentativa de esconder o que aconteceu.
O Correio da manhã tentou saber pormenores mas ninguém lhe quis responder, nomeadamente sobre quem eram os assassinos do jovem.
Alguém me disse que a TVM deu a notícia de uma forma deturpada, que atribuía as culpas ao próprio jovem, acusando-o de ter fugido da Polícia.
Ora, a ser isto verdade, mais uma vez me parece muito negativo. Tentar esconder a verdade, neste caso como em outros, que infelizmente todos recordamos, só serve para fazer crescer o boato de forma descontrolada.
Pedia-lhe, portanto, Excelência, que aproveitasse este infeliz acontecimento para marcar claramente uma diferença em relação ao passado recente do nosso país em que as tentativas de esconder a verdade só resultaram em escândalo e ainda maior desprestígio para o Estado.
Sem outro assunto, cumprimento V.Excia com a maior consideração.
Machado da Graça
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/06/abdul_faruk_mon.html