Perante milhares de manifestantes concentrados em frente ao Palácio do Governo em Díli, Xanana Gusmão anunciou que a «esperteza» do povo permitiu ganhar «esta guerra», mas sem precisar ou adiantar qualquer solução para a crise. Termina esta sexta-feira o prazo dado ao primeiro-ministro para se demitir. Já amanhã, a Fretilin poderá decidir a substituição de Alkatiri.
«Falhámos em garantir a vossa estabilidade, mas com a vossa esperteza ganhámos esta guerra», afirmou Xanana Gusmão, perante o entusiasmo de milhares de manifestantes, que exigem a demissão do primeiro-ministro, Mari Alkatiri. Apesar do optimisto, o Presidente não avançou qualquer solução para a crise política em Timor-Leste, nem se referiu à ameaça, feita quinta- feira, de resignar esta sexta-feira ao cargo se Mari Alkatiri não se demitir.
A possível demissão de Xanan Gusmão alarma a comunidade internacional que teme a guerra civil em Timor
Antes, Xanana esteve reunido com o bispo Alberto Ricardo da Silva, a quem terá admitido a possibilidade de reconsiderar a sua demissão. «Ele prometeu reflectir melhor sobre diferentes opções possíveis», disse o bispo aos jornalistas.
O Chefe de Estado esteve também reunido com o chefe da missão da ONU em Timor-Leste (UNOTIL), que apelou ao presidente para não se demitir, afirmando que a sua permanência no cargo é «indispensável para a manutenção da paz e estabilidades» no país.
Numa mensagem ao país, na quinta-feira, Xanana Gusmão anunciou que resignará esta sexta-feira ao cargo, se o primeiro-ministro e líder da FRETILIN, Mari Alkatiri, não se demitir. O conselho de ministros timorense deverá reunir-se sexta-feira tendo como único ponto da agenda a demissão do executivo, segundo fonte governamental.
«Peço responsabilidades ao vosso camarada Mari Alkatiri pela crise que estamos a viver, relativamente à sobrevivência do Estado de direito democrático ou amanhã eu vou mandar uma carta ao Parlamento Nacional, para informar que me demito de Presidente da República», disse Xanana Gusmão numa mensagem ao país. «Tenho vergonha pelo que o Estado está a fazer ao povo e eu não tenho coragem para enfrentar o povo», acrescentou Xanana Gusmão na mensagem.
Sobre a alegada distribuição de armas a civis, o Presidente afirmou que esta se insere num plano da FRETILIN para «fazer o golpe e matar a democracia» em Timor-Leste.
O Presidente timorense exigiu a demissão do primeiro-ministro por considerar já não merecer a sua confiança, numa carta enviada terça-feira ao chefe do Governo. Em causa a alegada ordem dada por Mari Alkatiri para a distribuição de armas a civis, acusações prontamente refutadas pelo chefe do Governo timorense.
Já na quarta-feira, Xanana Gusmão alegou que a crise política não se pode prolongar por mais tempo e que deve uma satisfação ao povo timorense para justificar a ameaça de se demitir da Presidência, caso o primeiro-ministro não o fizesse. Na quinta-feira, a FRETILIN, no poder, garantiu que primeiro-ministro não vai apresentar a demissão.
A eventual demissão de Xanana Gusmão da chefia do Estado implicará a sua substituição pelo presidente do Parlamento, Francisco Guterres
neste caso, de acordo com a Constituição timorense, o que deixaria temporariamente a FRETILIN à frente da presidência e do Governo.
Determina ainda a Constituição que «se o Presidente da República renunciar ao cargo, não poderá candidatar-se nas eleições imediatas nem nas que se realizem no quinquénio imediatamente subsequente à renúncia».
VISÃO - 23.06.2006
Substituição Alkatiri poderá ser solução
Segundo várias fontes da Comissão Política Nacional (CPN) e do Comité Central da FRETILIN contactadas telefonicamente pela Lusa, a possível substituição de Mari Alkatiri «está a ser estudada» como uma saída para a crise, devendo a decisão ser tomada na reunião de sábado do Comité Central do maior partido timorense. Entre as outras opções estão a demissão em bloco de todo o governo e a proposta já confirmada quinta-feira pelo próprio Mari Alkatiri, da sua permanência no governo e a nomeação de dois vice-primeiro-ministros, disseram as fontes.