O GOVERNO, através do Ministério das Finanças, acaba de disponibilizar cerca de dois biliões de meticais para o pagamento de salários atrasados e indemnizações aos trabalhadores da Companhia de Culturas de Angoche - CCA, em greve há cerca de dois anos. Entretanto, os beneficiários recusaram a receber o valor concedido, alegadamente por estar aquém das suas projecções aritméticas.
Joaquim Mateus, secretário provincial da Organização dos Trabalhadores de Moçambique (OTM), confirmou à nossa Reportagem que, de facto, houve esta abertura do Governo ao tentar colocar ponto final no assunto, mas tudo voltou à estaca zero, devido à relutância dos cerca de 1700 operários em receber o dinheiro. Segundo a nossa fonte, os salários atrasados e indemnizações, que os operários se acham com direito, foram calculados na base dos que eram pagos no ano de 1983, altura em que a empresa estava sob gestão Estatal, em consequência da fuga dos proprietários, de origem suíça.
"Feitas as contas, cabe a maior parte deles, valores que não ultrapassam os cem mil meticais, contra os mais de 50 milhões que as mentes dos trabalhadores haviam feito, daí a recusa em receber o dinheiro", disse. Amisse Cololo, director provincial do Trabalho, confirmou-nos apenas que já existia dinheiro para pagamento dos trabalhadores da CCA, escusando-se de avançar mais detalhes sobre o assunto. Contudo, fontes do "Notícias", referem que o Governo, os sindicatos provincial e da empresa vão reunir-se na próxima semana para encontrarem formas de ultrapassar o problema.
De referir que a CCA está actualmente nas mãos da empresa Gani Comercial e esta sempre se recusou a pagar os alegados salários atrasados e as indemnizações por não reconhecer aquele grupo laboral, senão um total de 38 trabalhadores que constavam no caderno de encargos aquando da aquisição da empresa nas mãos dos antigos donos suíços. Momede Yunuss, administrador da CCA, escusou-se a tecer qualquer comentário a propósito do actual cenário. De referir que a greve dos trabalhadores da CCA que se arrasta há cerca de dois anos, consta como a mais longa da história de manifestações laborais, seguindo-se a dos trabalhadores da Texmoque, também na província de Nampula.
Tanto o Ministério Público, como o Tribunal consideram a greve ilegal, por a acção ter sido intentada 20 anos após o registo da causa do problema, pois o tempo permitido por lei, passou.
NOTÍCIAS - 20.06.2006