Maputo, 26 Jun (Lusa) - Diversos jornais e analistas moçambicanos acusaram a Austrália e "interesses petrolíferos" de responsabilidades na crise política timorense e na demissão de Mari Alkatiri, exilado 24 anos em Moçambique durante a ocupação indonésia de Timor-Leste.
O primeiro-ministro demissionário de Timor-Leste, que se licenciou em Direito em Maputo, pela Universidade Eduardo Mondlade, continua a gozar de grande prestígio junto da opinião pública moçambicana que o considera "uma vítima dos ambiciosos do petróleo".
"Que mal fez, afinal, Alkatiri?", pergunta na edição de hoje do Notícias, o maior jornal moçambicano, o director da Agência de Informação de Moçambique (AIM), Gustave Mavie.
"O que está em causa aqui não é a sua razão mas a ordem ditada pelo Ocidente de que deve sair do governo para que no seu lugar seja colocado alguém que permita a exploração do petróleo timorense pelas companhias da Austrália e dos EUA", escreve Mavie.
O director da AIM acusa Camberra de querer "instalar uma junta que seja o seu peão em Timor" aproveitando "um 'convite' do presidente de Timor, Xanana, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta - um grande oponente do nacionalismo de Alkatiri - para enviar tropas para Díli".
Depois de recordar que Alkatiri "opôs-se a interesses" da Austrália, do Banco Mundial e do FMI, Gustavo Mavie conclui: "Tudo isto, adicionado ao facto de que ele foi educado e passou 24 anos no exílio no então marxista Moçambique, foram citados por oponentes na Austrália como carimbos de um líder comunista que deve ser afastado do poder".
Palavras de igual desconfiança em relação ao papel da Austrália na crise timorense foram escritas por Sérgio Vieira, ex-ministro e dirigente histórico da FRELIMO, na última edição do semanário Domingo.
"Da ocupação indonésia ao presente desembarque australiano, das facções que se promovem às ingerências que testemunhamos, sentimos que mais que nunca se impõe a nossa solidariedade vigilante", refere, antes de, sem nomear, estender as críticas a Xanana Gusmão e a Ramos-Horta.
"A mando de quem manda já se afastaram verdadeiros patriotas das pastas da Defesa [Roque Rodrigues] e do Interior [Rogério Lobato] e preparam-se cenários que para nós africanos nos fazem lembrar um passado trágico", diz o actual director do Gabinete do Plano do Zambeze, referindo-se ao ocorrido no Congo na década de 1960, com o assassinato de Patrice Lumumba e a ascensão de Mobutu e Tshombé.
"Os meus respeitos e abraço ao povo, ao governo e à FRETILIN", conclui Sérgio Vieira num inequívoco apoio, que representa também o apoio de uma importante corrente de opinião da FRELIMO, o partido no poder em Moçambique desde a independência, em 1975.
Também o editor do Semanário Savana, Fernando Gonçalves, exprimiu a sua preocupação com a divisão na liderança timorense, estranhando os argumentos de Xanana Gusmão para declarar a perda de confiança em Alkatiri.
"É uma simples revelação de quão profundas são as divisões entre Gusmão e Alkatiri que o chefe de Estado de um país possa basear a sua decisão num documentário passado na televisão de um país cuja imparcialidade na actual crise é, na melhor das hipóteses, sujeita ao benefício da dúvida", defendeu Gonçalves, no Savana.
Fernando Gonçalves aludia a um reportagem da televisão australiana ABC sobre a alegada distribuição de armas a civis para eliminar adversários políticos de Mari Alkatiri.
LAS.