Díli, 25 Jun (Lusa) - Mari Alkatiri pôs hoje à disposição do partido o seu lugar de primeiro-ministro, como exigiu o Presidente timorense, mas o comité central da FRETILIN recusou, apostando na continuação do diálogo e pedindo a ambos para se manterem no poder.
Segundo Estanislau da Silva, membro daquele órgão partidário, essa foi uma das opções que o secretário-geral do partido colocou à consideração do comité central, que hoje se reuniu durante cerca de sete horas.
Para a FRETILIN, a solução da crise assenta fundamentalmente na não demissão quer do primeiro-ministro quer do Presidente Xanana Gusmão, segundo uma resolução aprovada no final da reunião extraordinária.
O Comité Central da FRETILIN considera que uma solução duradoura para a crise em Timor-Leste passa pelo "envolvimento de instituições e mediadores internacionais credíveis", diz o texto.
Reafirmando "total disponibilidade" para encontrar uma solução duradoura para a crise instalada no país, no respeito da Constituição e das leis, a FRETILIN defende que essa solução "deve ser construída com base no diálogo e no consenso nacional".
O texto aprovado na reunião salienta que a FRETILIN se propõe iniciar contactos com o Presidente Xanana Gusmão e solicita o apoio da Igreja Católica e outras confissões religiosas para a solução da crise, que incluiu também encontros com os partidos políticos e organizações da sociedade civil.
Ao mesmo tempo, o partido exige às entidades competentes que actuem de forma a "garantir a detenção e o rápido julgamento dos cidadãos indiciados do cometimento de crimes durante o período de 28 de Abril a 25 de Junho" e manifesta a intenção de "acompanhar de perto as investigações sobre o descaminho e distribuição ilegal de armas e verificar acerca da alegada responsabilidade e envolvimento de quadros e militantes da FRETILIN".
A exigência do desarmamento de todos os grupos irregulares e das pessoas armadas e a abertura de processos-crime pela difamação de quem tem sido vítima, são outras decisões tomadas pelo Comité Central.
Na conferência de imprensa que se seguiu, com Mari Alkatiri, que não falou, e Francisco Guterres "Lu-Olo", presidente do partido, coube a Estanislau da Silva, membro do Comité Central, responder às perguntas.
Estanislau da Silva precisou que, relativamente à disponibilidade da FRETILIN para o diálogo, designadamente com o chefe de Estado, Xanana Gusmão, o partido pretende enviar uma delegação liderada pelo seu presidente, Francisco Guterres "Lu-Olo", que integrará ainda ele próprio e a ministra de Estado e da Administração Estatal, Ana Pessoa, e José Lobato, membro da Comissão Política Nacional do partido.
A Presidência da República, por intermédio do chefe de gabinete do chefe de Estado, Agio Pereira, já reagiu, dizendo que a resposta "está na mensagem que o Presidente dirigiu ao país quinta- feira passada".
Nessa mensagem o Presidente timorense exigiu a demissão do primeiro-ministro Mari Alkatiri, sob pena de ele próprio se demitir, caso o chefe do governo não assumisse as responsabilidades na crise política e militar em Timor-Leste.
Instado a comentar a resposta da Presidência da República, Estanislau da Silva reafirmou que a FRETILIN decidiu apelar aos titulares dos dois órgãos de soberania para não se demitirem.
"Trata-se de duas figuras históricas que podem contribuir para a resolução da crise. Neste estado de crise não se resolve o problema, tirando peças do jogo", respondeu.
Entretanto, dois ministros, José Ramos Horta (Negócios Estrangeiros e Cooperação e da Defesa) e Ovídeo Amaral (Transportes e das Comunicações), já anunciaram a demissão.
Questionado sobre o pedido de demissão de José Ramos Horta, anunciado pelo seu porta-voz, Estanislau da Silva remeteu a resposta para o governo.
EL.