A recuperação da ponte que liga a vila-sede ao posto administrativo de Sábiè no distrito da Moamba, a seca que flagela a região, a criminalidade, os índices cada vez mais elevados do HIV/SIDA constituem algumas das principais inquietações apresentadas à primeira vice-presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo que há dias se juntou à população, para com ela passar os 31 anos da independência nacional.
OUTRORA considerado celeiro da província, hoje, Moamba debate-se com sérios problemas no ramo agrícola. A seca "castiga" os agricultores de tal sorte que os índices de produção não são os desejados. A ponte sobre o rio Incomáti, foi destruída pelas cheias que se abateram sobre a região sul do país, no ano 2000. A partir de então a circulação de pessoas e bens de e para o posto administrativo de Sábiè é extremamente deficitária. A própria comercialização de produtos encontra-se seriamente afectada. A população queixa-se dos elevados índices do HIV/SIDA. É que muitos jovens contornam a fronteira para África do Sul, à procura do emprego. Não raras vezes caem nas malhas das autoridades sul-africanas como ilegais e repatriados. Neste repatriamento, muitos voltam infectados pelo vírus. A criminalidade também castiga a população do distrito. O roubo de gado é outro mal que apoquenta a região. A primeira vice-presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo foi informada de todos estes males e, no prosseguimento da sua visita ao distrito reuniu-se com os líderes comunitários, secretários dos bairros, agentes económicos, membros do governo distrital e com a população em geral, num esforço que tinha em vista desenhar soluções para os múltiplos problemas que enfermam o distrito. "Reúno-me convosco para saber como é que nós devemos trabalhar". Atanásio António pediu a palavra para dizer que o distrito da Moamba ressente-se de muitas dificuldades, não obstante, caminha com rapidez para um futuro melhor. "A água ainda não chega para todos no nosso distrito. Temos escolas, algumas das quais novas. Mas não são suficientes. Queixamo-nos dos roubos. O nosso gado está a acabar. Os nossos filhos saltam a fronteira para a vizinha África do Sul e de lá voltam doentes infectados pela SIDA. Temos consciência de todos estes males mas também temos a certeza de que estamos a correr rumo a sua solução", afirmou. Velecina Funzamo também pediu a palavra para lembrar que a agricultura é a base de desenvolvimento de Moçambique sendo que "estamos com sérios problemas nos nossos regadios. Eles estão destruídos e já não facilitam a irrigação dos campos agrícolas". Indicou por outro lado, que o distrito debate-se com muitos acidentes de viação e ferroviários, pedindo para que se faça um estudo para a identificação da causa dos mesmos.
Os males que afectam os cidadaos
Maputo, Quinta-Feira, 29 de Junho de 2006:: Notícias
"Quando alguém sai de casa de manhã para a cidade de Maputo, para Ressano Garcia ou para um outro lugar, seja de carro ou de comboio, os nossos corações não estão à vontade enquanto esta pessoa não regressar. É que é fácil ouvir dizer que fulano de tal morreu vítima de acidente. Isso é frequente no nosso distrito. Sugiro, portanto, que não fujamos daquilo que é a nossa tradição. No nosso distrito morreu tanta gente por causa da guerra. Temos que identificar os lugares em que essa gente morreu para fazermos cerimónias tradicionais. Enquanto fugirmos desta regra continuaremos a derramar lágrimas neste distrito", queixou-se a anciã. Num outro passo da sua alocução Velecina Funzamo denunciou os roubos constantes que se verificam na vila-sede, apontando responsabilidades "para os nossos filhos". "Eles não dormem. De que andam à procura a noite? As nossas filhas vestem-se muito mal. De umbigo fora numa clara provocação aos rapazes. Que geração é esta? Peço ao Governo para que tome medidas para acabar com esta desordem", pediu. Simião Muthetho manifestou-se agradado pelo facto de a presente época agrícola se mostrar promissora. "... mas pedimos tractores para a lavoura. Alugar um meio destes para essa actividade é muito dinheiro. Dinheiro que não existe nos nossos bolsos. As sementes são enviadas muito tarde, atrasando a nossa produção", queixou-se. Para Filipe Cossa, a vila no distrito da Moamba está a melhorar. Tanta coisa do passado está a ser resgatada a bem das gerações vindouras. "O que eu peço aos agricultores é que se juntem em acções para facilmente obterem apoios não só do Governo, mas também de outros parceiros", solicitou Filipe Cossa. Bestinho Mavila secundou Cossa neste capítulo. Por outro lado, Betiho Mavila referiu que o distrito da Moamba deve começar a pensar nas reservas alimentares. "Se isso não acontecer dentro de seis meses ou um ano já não teremos comida no distrito", afirmou. Carlota Cossa pediu um banco de poupança no distrito. "Não conseguimos controlar as nossas economias porque não temos nenhuma instituição bancária. Onde vamos guardar o nosso dinheiro"? questionou Carlota Cossa.
As respostas de Verónica Macamo
Maputo, Quinta-Feira, 29 de Junho de 2006:: Notícias
Atenta às questões levantadas na ocasião, Verónica Macamo deu depois as respostas pertinentes. Sobre a ponte que liga a vila-sede do distrito ao posto de Sábiè, Verónica Macamo disse ser do conhecimento do Governo que ela destruída desde as cheias de 2000 e que algo está a ser feito com vista a sua reposição. Quanto a escassez de água disse ser necessário incutir na população o hábito de conservar o precioso líquido, sobretudo na época chuvosa. Sobre a fuga de jovens para a África do Sul, Verónica Macamo afirmou que estes jovens estão à procura de emprego, mas devem saber que a sua terra é Moçambique. "Mas eu penso que estes jovens devem ter o amor pela pátria. A auto-estima e consideração pelo seu país", referiu. Relativamente aos índices cada vez mais elevados da criminalidade, a primeira vice- presidente da Assembleia da República afirmou que medidas devem ser tomadas internamente, pois "os criminosos são daqui da Moamba. São nossos filhos, são nossos pais, são nossos avôs. O que devemos fazer é reforçar a vigilância". Falando na sua qualidade de membro da Comissão Política, chefe da brigada central da província do Maputo e "cabeça" de lista por este círculo eleitoral, Verónica Macamo disse que todos os militantes do partido e a população do distrito em geral devem trabalhar para acabar com a pobreza absoluta. "Temos que trabalhar para acabar com este mal. Temos que acabar com a fome, com a miséria. Temos que combater a corrupção e outros males que enfermam o desenvolvimento do país", adiantou. Verónica Macamo salientou que esta acção só pode ser desenvolvida pela população orientada e dirigida por um partido que se chama Frelimo. "Mas esta Frelimo precisa de ser cada vez mais forte. E para que seja forte todos nós temos que cultivar o espírito de pagamento de quotas. Temos primeiro que aumentar o número de militantes e depois reforçarmos as quotas. Só assim teremos uma Frelimo cada vez mais forte e à altura de dirigir o povo na luta contra a pobreza absoluta", salientou. Aliás, o recado que Verónica Macamo deixou na Moamba é de que o número de membros duplique nos próximos cinco a seis meses. E a população comprometeu-se a fazer de tudo para que a Frelimo tenha na Moamba um número cada vez mais elevado de membros. "Nós não queremos ganhar eleições só para estarmos no poder. Queremos ganhar as eleições para continuarmos a resolver os problemas do nosso povo. Mas para ganharmos as eleições temos que estar unidos e temos que trabalhar. Vamos trabalhar", afirmou. Falou do momento que se avizinha o qual será caracterizado por eleições de delegados ao IX Congresso. Afirmou que o mais importante é evitar intrigas e dar apoio aos que forem eleitos. "Isto mesmo em relação a eleição para os órgãos do partido", disse, indicando que durante a corrida podem aparecer tantos candidatos, mas no final "todos devemos apoiar os que forem eleitos". Disse que os eleitos irão para tais órgãos cumprir mandatos e que no final dos mesmos terão que sair para dar lugar aos outros. "É assim na Comissão Política, é assim no Comité Central, é assim na Assembleia da República e em todos os órgãos. Nós estabelecemos uma percentagem de continuidade e outra de renovação. Portanto uns permanecem, outros saem para dar lugar aos outros", explicou Verónica Macamo.
NOTÍCIAS - 29.06.2006