A imagem de Samora Machel, o carismático primeiro Presidente de Moçambique após a independência do país em 1975, domina as notas da nova moeda moçambicana, o Metical da Nova Família (Mtn), que será lançada no sábado.
A omnipresença de Machel na nova unidade monetária moçambicana contrasta com a ausência das figuras de Joaquim Chissano, que o sucedeu após a sua morte num acidente de avião em 1986, e de Eduardo Mondlane, o primeiro presidente da FRELIMO, movimento que conduziu a luta contra o colonialismo português até à proclamação da independência do país, morto num atentado atribuído à PIDE (antiga polícia política portuguesa).
Samora Machel dá a cara às notas de 1.000, 500, 200, 100, 50 e 20 Mtn, depois de também ter sido estampado em três notas da moeda que deixará de circular a 31 de Dezembro do ano em curso, o Metical.
No entanto, o baixo valor das actuais notas com a fotografia de Machel (50, 1.000 e 5.000 meticais), há muito que as retirou de circulação efectiva.
O Mtn circulará em simultâneo com a actual moeda, o Metical, até 31 de Dezembro deste ano, devendo a troca da antiga pela nova moeda ocorrer de 01 de Janeiro de 2007 a 31 de Dezembro de 2007.
Por seu turno, Chissano, que deixou o poder a 02 de Janeiro de 2005, após 18 anos de exercício, não figura em nenhuma das novas notas e moedas, depois de ter "emprestado" o seu rosto à nota de 10 mil meticais, em circulação até final do ano.
Também a imagem de Mondlane, considerado o arquitecto da Unidade Nacional, não está inserida em nenhuma das novas notas e moedas, depois de ter sido a principal cara do Metical, logo após a sua criação, a 16 de Junho de 1980.
A homenagem a Machel, quando passam 20 anos do acidente de Mbuzini, será estendida ao Governo da África do Sul que anunciou a construção de um monumento em sua memória naquela localidade sul- africana onde caiu o seu avião.
Pretória anunciou igualmente que vai reabrir o inquérito ao despenhamento do Tupolev presidencial, que Maputo atribuiu a uma acção criminosa do extinto regime racista sul-africano.
O antigo regime do "apartheid" da África do Sul fez sempre ameaças a Samora Machel, em retaliação à guarida que deu a militantes e quadros do ANC (Congresso Nacional Africano) em Moçambique, o movimento político que combateu a supremacia branca naquele país.
Reagindo ao peso de figuras da FRELIMO na moeda moçambicana, a RENAMO disse que a inserção da imagem de Samora Machel "é um balão de ensaio, para a inclusão da figura de Armando Guebuza (actual Presidente), com fins eleitoralistas".
"O país aproxima-se de uma longa e difícil jornada eleitoral, que começa no próximo ano, com eleições provinciais, seguidas, em 2008, das autárquicas, e presidenciais, em 2009. Todos os trunfos valem para a FRELIMO, incluindo a partidarização da moeda", disse à agência Lusa o porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga.
Para o principal partido da oposição, "o Banco Central moçambicano traiu o país, pois o governador desta instituição, (Adriano Maleiane), havia prometido que a nova moeda não iria levar rostos humanos, mas sim outro tipo de símbolos representativos do país", acusou Mazanga.
Num país onde a maioria da população não sabe ler nem escrever, a moeda pode ser um importante aliado na campanha eleitoral, com a inserção de figuras associadas à libertação do país do regime colonial português nas notas a que ninguém escapa.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 29.06.2006
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/06/nova_famlia_do_.html