CERCA de dois mil moçambicanos estão radicados no Quénia, há várias décadas, vivendo em condições ilegais, segundo a Constituição local. A embaixada moçambicana naquele país está a encetar contactos com as autoridades governamentais quenianas visando a solução do problema, segundo apurou há dias o "Notícias" em Nairobi, por via de Marcos Namashulua, embaixador moçambicano naquele país.
A Constituição local não permite que filhos de estrangeiros, mesmo nascidos no Quénia, adquiram a nacionalidade. Marcos Namashulua disse que a maior parte desta comunidade se encontra espalhada em Mombassa dedicando-se à agricultura e arte e escultura maconde. A outra parte vive no ócio. Aliás, nem sequer podem trabalhar porque não possuem qualquer documento de identificação. Marcos Namashulua dividiu em três categorias os moçambicanos radicados há décadas no Quénia. A primeira é dos que lá querem permanecer como cidadãos locais. A segunda dos que preferem permanecer no país, mantendo a cidadania moçambicana e a terceira dos que preferem regressar à pátria-mãe.
Indicou ainda que em 1992 após a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), pondo fim a vários anos de conflito militar, muitos moçambicanos regressaram à origem, mas pouco tempo depois retornaram ao Quénia onde até hoje se encontram radicados. "A embaixada moçambicana está aberta para acolher a todas estas categorias. Aliás, estamos a encetar contactos com as autoridades governamentais locais para tentarmos resolver o problema da sua legalização. É que nas condições em que vivem, ilegais segundo a Constituição, não têm direito, por exemplo, a propriedade e nem podem trabalhar. Vivem em sítios alugados, correndo a todo e qualquer momento o risco de ser despejados", afirmou Namashulua. O diplomata moçambicano disse que a embaixada tem procurado congregar a todos moçambicanos, informando-os sobre os principais acontecimentos do país.
A título de exemplo, Marcos Namashulua afirmou que o presente 25 de Junho, data que assinala a passagem do 31º aniversário da proclamação da independência nacional será celebrado em Mombassa, precisamente na região onde se encontra radicada a maior parte da comunidade moçambicana no Quénia. "Decidimos passar a data em Mombassa, convivendo com os nossos compatriotas que lá se encontram espalhados. Com eles vamos falar da importância histórica do 25 de Junho, vamos falar do estágio político, económico e social de Moçambique e vamos celebrar de diferentes maneiras a data da nossa independência", disse. Interrogado sobre o estágio das relações entre Moçambique e o Quénia, o embaixador respondeu que do ponto de vista político a relação é muito boa.
"Estamos a tentar melhorar o aspecto económico. E um dos bons sinais nesse sentido é o voo da Kénia Airwais estabelecendo a ligação entre Nairobi e Maputo. Mas sinto também que os moçambicanos e quenianos ainda não se conhecem profundamente. É por isso que em nome da promoção de um conhecimento mútuo entre ambos povos, promovemos num passado recente uma conferência de investidores na cidade de Nairobi, onde expusemos a nossa situação. Mercê dessa conferência muitos quenianos olham hoje para Moçambique como ponto de destino", afirmou Marcos Namashulua. Acrescentou que a conferência serviu, igualmente, para convidar os quenianos a viajar para Moçambique a fim de transmitirem as suas experiências na área do turismo sabido que este país possui ricas experiências na exploração deste sector. "Eu próprio convidei o presidente do Conselho Municipal da Cidade de Pemba a deslocar-se a Nairobi, à busca de experiências sobre o turismo. Já falei com o presidente do município de Nairobi e Mombassa para estabelecerem parcerias com os moçambicanos, promovendo o turismo. Até agora está tudo a ser bem encaminhado", sublinhou.
Decano dos embaixadores africanos acreditados em Nairobi, Marcos Namashulua descreveu a cidade de Nairobi como sendo muito violenta, ocorrendo muitos assaltos à mão armada e roubos, mesmo à luz do dia. "Em termos de segurança cada um que se arranje. A violência manda em Nairobi", afirmou Marcos Namashulua. Marcos Namashulua possui múltipla acreditação pois, é também embaixador extraordinário e plenipotenciário de Moçambique em Kampala, no Uganda.
SALOMAO MUIAMBO - NOTÍCIAS - 22.06.2006