Operacionais afirmam que nos últimos meses se assistiu no território a um "recrudescimento das acções militares".
O estado-maior general das Forças Armadas Cabindesas Unificadas, chefiado por Estanislau Bomba, considerou ontem uma "farsa" a aprovação em Brazzaville de um memorando para a paz no território de Cabinda, onde disse que nos últimos meses se assistiu a um "recrudescimento das acções militares".
António Bento Bembe, que assinou o documento em nome do Fórum Cabindês para o Diálog(FCD), "não tem poder nem legitimidade política, por ter sido exonerado (pelo líder independentista Henriques N'Zita Tiago) das funções de presidente do Fórum e de secretário-geral da FLEC", explicou aquele grupo de operacionais da guerrilha.
Enquanto isto, Agostinho Chicaia, presidente da associação cívica Mpalabanda, uma das componentes do FCD, disse, contactado por telefone pelo PÚBLICO, que o entendimento de Bento Bembe com o Governo angolano "não aquece nem arrefece", continuando-se "na estaca zero" quanto à resolução dos problemas de Cabinda, onde existe um forte sentimento autonomista.
"Foi uma encenação, uma montagem", insistiu Chicaia, em relação ao encontro de Bembe com o ministro da Administração do Território, Virgílio de Fontes Pereira, de modo a rubricarem um texto que deverá vir a ser posteriormente assinado na cidade do Namibe, no Sul de Angola, em sessão solene.
Por seu turno, Stéphan Barros, porta-voz da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), disse em Lisboa que o memorando de entendimento anunciado na República do Congo "não tem sentido, nem
validade", uma vez que Bembe é um simples líder de facção e não representa a maioria dos habitantes da sua província.
Segundo o texto anunciado pela imprensa estatal angolana, são amnistiados os que em Cabinda têm combatido pela autodeterminação, cessam as hostilidades, desmilitarizam-se as forças de guerrilha
e "reintegram-se condignamente" as pessoas que estejam dispostas a reconhecer as autoridades de Luanda.
Bembe disse em Brazzaville ter debatido com o Governo de Angola "o futuro estatuto de Cabinda, baseado no reconhecimento das especificidades históricas, geográficas e socioculturais" de um povo
com pouco mais de meio milhão de pessoas.
PÚBLICO - 18.07.2006