«Presidenciais» de São Tomé «passam» por Luanda
Agendadas para o último dia do corrente mês, as eleições presidenciais em São Tomé e Príncipe passam também por Angola, país que conforma um importante círculo eleitoral por causa do considerável número que ilhéus que aqui ganham a vida.
Dada a sua importância no «mapa eleitoral», os são-tomenses residentes em Angola são bastante disputados pelos mandatários de ambas as listas que concorrem ao pleito, que se prevê acerrimamente disputado.
Nos bastidores a movimentação para captar as simpatias do eleitorado são-tomense de Angola é frenética e tem, inclusivamente, as «impressões digitais» do partido governante em Angola, o Mpla, que desta vez parece estar apostado na candidatura de Patrice Trovoada (filho do ex-Presidente Miguel Trovoada), que além da Acção Democrática Independente (Adi) conta, igualmente, com o suporte do Mlstp, um «aliado natura» da «grande família» angolana desde os tempos da luta de libertação.
Recentemente, Patrice Trovoada esteve em Angola, onde foi recebido por figuras de proa do Mpla, que terá dado o necessário apoio financeiro ao candidato que concorre com Fradique Menezes.
O Mpla está, aliás, de tal forma engajado na disputa eleitoral são-tomense que significativas franjas da sua cúpula não perdoam o principal activista em Angola da campanha do actual Presidente Fradique de Menezes, ele que é candidato à sua própria sucessão. O agastamento desses sectores da «grande família» decorre do facto de alegadamente terem facilitado sempre todos os negócios do peão do candidato da situação e da coligação que suporta a sua candidatura, o Movimento Democrático Força de Mudança (Mdfm)/Partido de Convergência Democrática (Pcd).
De acordo com fontes do Mpla contactadas pelo Semanário Angolense, o «longa manus» de Fradique de Menezes em Angola é Arnaldo Bom Jesus, um bem sucedido empresário do ramo da restauração, que detém, entre outros empreendimentos, a conhecida «Pastelaria Lenita», em Luanda. Ele é tido em círculos do partido maioritário em Angola como hostil à política do governo angolano, sendo-lhe atribuídas declarações como «Angola interfere demais na vida interna de São Tomé e Príncipe».
A irritação do Mpla em relação a este cidadão são-tomense, que aportou em Angola pouco antes da independência , é maior ainda pelo facto de ter trazido a Angola alguns activistas a fim de direccionarem o voto dos são-tomenses aqui residentes para Fradique de Menezes, uma figura pela qual o governo Angola não nutre simpatia nenhuma por causa do seu alinhamento político com a Nigéria e também das palavras pouco simpáticas que diz em privado sobre Angola.
Para importantes sectores do partido governante em Angola, Arnaldo Bom Jesus não passa de um «ingrato» que comeu fartamente da gamela do Mpla por conta da viabilização dos seus negócios por parte do governo angolano. «Ele está agora a cuspir no prato em que começou», vociferou um membro da alta hierarquia do partido dos «camaradas», que não foi nada parco em críticas: «ao invés de se preocupar com a degradação dos seus empreendimentos – a sujeira em que a ‘Pastelatia Lenita’ se encontra é deplorável – ele está mais preocupado em ‘queimar’ o Mpla e o governo angolano junto do Presidente Fradique de Menezes, de que é conselheiro especial».
Sócio do governador do Uíje, Bento Kangulo, numa empresa de construção civil, a «6 Tavares» que ganha a maioria dos concursos públicos promovidos pelo governo daquela província cafeícola, Arnaldo Bom Jesus parece não colher também a simpatia de muitos dos seus concidadãos radicados em Angola, maioritariamente simpatizantes do Mlstp, facto atestado pelas sucessivas vitórias desse partido e dos seus candidatos à Presidência no ciclo eleitoral angolano.
Numa recente conferência, realizada por ocasião do XXX aniversário da independência de Angola, sob o tema «Parceria Estratégica entre Angola e São Tomé», exasperou grandemente vários concidadãos seus quando insinuou que o governo de Angola quer mandar em São Tomé e Príncipe, escolhendo para si os seus parceiros. Isso ficou devidamente registado no «Kremlin», onde já se cogitam medidas coercivas de modo a levá-lo a trilhar «caminhos mais consentâneos com a gratidão».
Deputado pela coligação Mdfm/Pca na legislatura passada, mesmo se dedicando exclusivamente aos seus negócios em Angola, o «cabo eleitoral» da campanha de Fradique de Menezes em território angolano é também conhecido jocosamente na comunidade com o «despertador do Presidente», pois, como disseram fontes familiares ao dossier, volta e meia liga para o líder são-tomense a fazer queixinhas. Em privado são-lhe atribuídos questionamentos do género «Se Dos Santos está tanto tempo no poder em Angola porque é que o mesmo não pode acontecer com Fradique em São Tomé e Príncipe?»
Semanário Angolense, 8 a 15 de Julho de 2006