A talhe de Foice
Por Machado da Graça
O brutal ataque de um grupo de bandidos ao espaço de convívio da escritora Lina Magaia, ali no Bairro Triunfo, foi apenas o mais recente exemplo da criminalidade galopante com que a nossa sociedade tem que se enfrentar.
Quando os bandidos se sentem perfeitamente à vontade para fazer um ataque daqueles mesmo nas barbas de uma esquadra da Polícia isso diz muito sobre quem é o verdadeiro dono das nossas cidades: são eles.
Não podemos deixar de ficar surpreendidos com a aparente inactividade do pessoal da esquadra quando, a poucos metros, ocorria um tiroteio intenso. Isto nos recorda o caso recente do assassinato do jovem Faruk, em que os polícias da esquadra do hospital também nada fizeram perante o crime ocorrido ali mesmo em frente.
Pelo que li nos jornais o atentado do Triunfo destinava-se a matar, precisamente, o chefe de operações daquela esquadra, o comandante Chavana, pessoa que gozava de prestígio como polícia honesto. E se foi juntar à grande lista de pessoas honestas que caem vítimas do crime organizado.
Mas se este bárbaro assassinato foi o que teve maior impacto público, dado o local onde ocorreu e as vítimas que provocou, não devemos esquecer que, segundo o mediaFAX, foram oito os crimes violentos, com uso de arma de fogo, que ocorreram naquele fim- -de-semana na capital. Nem que, naquele mesmo Bairro Triunfo, um guarda tinha sido assassinado também em menos de uma semana antes.
Crimes que, de uma forma geral, vão ficando impunes.
No caso do assassinato do comandante Chavana, assistimos a uma actividade intensa da Polícia, que parece já ter identificado os criminosos e anda agora em sua busca. O que é de louvar. Mas que devia ser a regra geral e não acontecer apenas quando são os próprios polícias a ser vítimas dos crimes.
E há que perguntar como sabiam os bandidos que o comandante estava no atelier da Lina Magaia. Conheciam-lhe os hábitos? Ou terão sido informados pontualmente de que, naquele preciso momento, era lá que o encontrariam? E por quem?
Porque mesmo conhecendo os hábitos de Chavana não sei se os bandidos se arriscariam a fazer aquele ataque brutal para descobrirem, à última hora, que ele não tinha ali ido nesse dia, por qualquer razão.
Tudo isto aconselha a que os bandidos sejam capturados vivos. Para que possam responder às perguntas que se impõem sobre quem os mandou fazer este assassinato e porquê.
De uma forma geral, a sociedade está no seu direito de exigir às autoridades que garantam a segurança dos cidadãos contra este tipo de violência criminosa. E não nos venham dizer que faltam os meios para isso. Se eles faltam é, em grande parte, porque foram desviados pela corrupção, por gente que enriqueceu à custa dos bens do Estado e continua à solta, impune e protegida. E o caso do Ministério do Interior é disso exemplo assinalável. Quantos meios de combate ao crime poderiam ter sido adquiridos com a enorme fortuna que desapareceu dos cofres daquele ministério durante o mandato de Almerindo Manhenge?
E porque é que nunca faltam meios, pelo contrário até se exagera no seu uso, quando o Governo acha que deve reprimir as actividades da Renamo? Não esqueçamos o pequeno exército que foi mandado, há coisa de um ano, para Sofala por causa de uma cena de cueca que se tornou política por um dos intervenientes ser da Renamo. Aí ninguém falou de falta de meios.
É por tudo isto que não podemos concordar com o Presidente da República quando nos diz que o combate à corrupção não passa por acusar este ou aquele.
Passa sim, senhor Presidente. É mesmo um factor essencial de um qualquer combate sério à corrupção e à criminalidade, que lhe está intimamente associada. Carlos Cardoso e Siba Siba Macuácua foram vítimas da criminalidade porque estavam a pôr em cheque a corrupção.
Se os corruptos e criminosos continuarem a sentir que vão ficar impunes, façam o que fizerem, porque são membros proeminentes do partido no poder, a corrupção e o crime organizado não vão diminuir nunca. Vão continuar a aumentar cada vez mais descontroladamente.
E, lamento dizê-lo, estas declarações presidenciais parecem indicar uma de duas coisas: ou que o Governo não tem nenhuma vontade política de punir os corruptos e criminosos que pertencem à sua área política ou, por outro lado, que existe essa vontade política mas não existe força política, no actual contexto, para a levar para a frente. Das duas hipóteses não sei qual será a pior.
É a imagem de corruptos e criminosos atrás das grades de uma cadeia por muitos anos que faz os outros candidatos ao crime pensarem duas vezes. Não são os discursos bonitos para comunidade internacional ouvir. Disso eles riem-se a bom rir.
Chega de palavras bonitas e paninhos quentes.
Queremos actos concretos. Queremos ver os corruptos e os criminosos passarem de agentes activos na sociedade a posições defensivas perante a ofensiva dura das autoridades.
Doa a quem doer, senhor Presidente.
Doa a quem doer.
SAVANA - 14.07.2006
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