O EMBAIXADOR português na RDCongo, Manuel Silva Duarte Costa, disse ontem que a situação está tensa na capital do país, Kinshasa, onde nos últimos dias se registaram confrontos nas ruas.
"A situação não está calma. No fim-de-semana passado mataram um jornalista congolês", disse o embaixador português contactado por telefone pela agência LUSA. "Há poucos dias um jornalista alemão foi também ferido com balas", acrescentou. "Terça-feira houve uma manifestação na avenida principal de Kinshasa, a 300 metros da Embaixada de Portugal, e a Polícia interveio, tendo lançado gás lacrimogéneo e disparado tiros para o ar", sublinhou o embaixador. Segundo o diplomata português, a "manifestação foi realizada frente à sede da Comissão Eleitoral Independente".
Também em contacto telefónico a partir de Lisboa, o coronel Eurico Silva Santos, conselheiro da missão da UE para a reestruturação das Forças Armadas do país, disse à LUSA que eram esperadas ontem mais manifestações, que poderão prosseguir hoje. "É natural que haja vários confrontos até às eleições e depois de saírem os resultados", afirmou o coronel português, considerando que estas situações são sempre imprevisíveis. "Não se espera grande sossego até ao dia das eleições", acrescentou. A cerca de duas semanas das eleições gerais na RDCongo, as primeiras desde a independência do país da Bélgica, a 30 de Junho de 1960, têm-se registado confrontos na capital na sequência de manifestações sobre alegadas irregularidades na campanha eleitoral. Segundo funcionários de agências humanitárias, a manifestação de terça-feira provocou vários feridos, devido à intervenção policial.
Os hospitais e a morgue de Kinshasa não confirmaram a existência de vítimas mortais, apesar de alguns órgãos de comunicação social afirmarem que duas pessoas morreram. A manifestação foi dispersa pela Polícia, porque não foi autorizada, segundo o general Patrick Sabiki, responsável pela segurança em Kinshasa. No sábado, um jornalista congolês, antigo correspondente da "Jeune Afrique Economie", foi morto em sua casa por desconhecidos. Bapuwa Mwamba foi o segundo jornalista a ser morto em Kinshasa no espaço de oito meses, depois de Franck Ngyke, do jornal "Le Reference Plus", ter sido abatido juntamente com a sua mulher por "homens fardados". Outros dois jornalistas, um alemão e outro congolês, foram feridos. Por outro lado, na zona do país que faz fronteira com o Uganda, Ruanda e Burundi também foram registados confrontos entre as forças governamentais e rebeldes que ainda operam na região. Na província de Kivu, mais de 30 civis foram queimados vivos na madrugada de domingo num ataque feito por homens armados, segundo a missão da ONU no país.
Residentes no local, situado no leste do país, atribuíram o ataque às milícias locais e aos rebeldes hutus, ruandeses das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda. As populações de Kivu, na fronteira com o Ruanda, são quase diariamente vítimas de pilhagens, sequestros, violações e por vezes assassínios perpetrados por diferentes grupos armados que operam na região. Também a zona de Bunia, fronteira com o Uganda, tem sido assolada pela violência. No passado sábado cinco capacetes azuis foram libertados, depois de terem sido sequestrados no final de Maio por milícias da Frente Nacionalista de Integração, que operam na região.
A guerra civil na RDCongo começou em Agosto de 1998 entre dois grupos rebeldes, apoiados pelo Ruanda, Uganda e Burundi, e as forças governamentais, apoiadas pelos exércitos angolano, namibiano e zimbabweano. O conflito, que durou quatro anos, provocou cerca de três milhões de mortos e mais de quatro milhões de deslocados. A segurança nas eleições do próximo dia 30 vai ser garantida pelos cerca de 17.000 capacetes azuis da MONUC, apoiados por cerca de 1500 militares da União Europeia. Paralelamente, centenas de observadores eleitorais vão estar espalhados pelo país para garantir a realização do escrutínio.
NOTÍCIAS - 13.07.2006