Enquanto os jovens “ressacavam” políticos esperaram nas cerimónias centrais que acabaram às moscas
“Temos que evitar este tipo de retiro porque parece estar a tornar-se mais clube de amigos para bebedeira do que encontro de jovens” - António Munguambe director da Juventude e Desportos da Cidade de Maputo
(Maputo) A propósito do “bacanal” financiado pelo Estado se bem que apelidado de «Retiro Juvenil da Catembe» (vsff Canal n.º 132) o Canal de Moçambique foi ao encontro da autoridade promotora com um ensejo: dar a palavra ao director da Juventude e Desportos da Cidade de Maputo, uma parte até aqui ainda não ouvida sobre os incidentes que continuam a alimentar muitas conversas. António Munguambe ficou sem jeito e tal como Pilatos lavou as mãos, dizendo que os participantes já têm idade para saberem que rapazes e meninas deveriam dormir separados. No entanto, o que era suposto ser um encontro de promoção de bons costumes e por uma juventude que o programa do Governo define como “a grande prioridade”; um encontro por uma juventude sã, acabou num «forrobodó» que ainda não deixou de dar que falar e continua a fazer o delírio dos jovens em certos «blogs» na Internet. Álcool, suruma, sexo, e violência, foi no que deu. Até hoje as marcas da enorme ressaca são motivo de conversas intermináveis na Catembe. Um “escândalo!”
De acordo com o mais alto responsável governamental pelos assuntos da Juventude no espaço territorial em que se registou o “escândalo”, “os jovens deviam ter responsabilidade e não fazer do retiro juvenil um clube de amigos e de bebedeira para depois «dormirem» todos juntos”.
Ninguém sabe dizer ao certo quantos dos cerca de duzentos jovens que tomaram parte no retiro eram masculinos e quantos eram femininos. António Munguambe fala em “210 no total”, alegando que era isso que “estava planificado”. As tendas eram “duas”.
Segundo ele “suficientes para albergar os jovens”. “Por isso não havia motivo para eles dormirem juntos”.
Questionado pelo «Canal» sobre o motivo que teria levado os jovens a “dormir todos juntos” Munguambe disse isso para ele era “uma novidade”. Mas logo acrescentaria que “acima de tudo os jovens são adultos razão pela qual deviam dormir separados”.
“Os jovens que vão para o retiro são adultos por isso sabem que devem dormir separados e não juntos”.
Num outro desenvolvimento Munguambe disse que a DJDCM entregou aos jovens “as condições básicas para passarem o retiro na Catembe” entendendo ele que aí acabou a responsabilidade do Estado. “Não precisávamos de vigia-los porque não somos polícias”, afirma.
“Não estamos a lidar com crianças, mas com jovens adultos, razão pela qual devem ter responsabilidade pelos seus actos”.
O Retiro Juvenil da Catembe que tem estado a dar que falar realizou-se de 5.ª feira a domingo, na margem sul da Baía de Maputo. Oficialmente diz-se que era de esperar que as duas barracas de campanha de grandes dimensões seriam suficientes para assegurar que os jovens se separassem por sexo, mas acabaram todos por “dormir juntos”, facto que leva a que ironicamente se fale já no “bacanal da juventude da Catembe”.
O ambiente que existia no local durante os dias em que decorreu o retiro era de total «forrobodó», com muitos dos jovens a evidenciar grandes babalazas a dormir de forma dispersa, alguns ao relento, por entre garrafas de cerveja.
Camisetes também dão que falar
Para assinalar o retiro foram distribuídas camisetes com dizeres alusivos. Para 210 jovens que tomaram parte no evento só havia 60 «T-shirts».
“A DJDCM não está para distribuir e controlar camisetes para os jovens”, começa por dizer António Munguambe. “Apenas entregámos à organização um número que achámos suficiente para os jovens presentes no retiro”. Seja como fôr, o deficit acabou sendo de muitas dezenas. Quando o «Canal» colocou a questão do número de camisetes para melhor poder esclarecer os leitores do que possa ter acontecido, o director da Juventude e Desportos da cidade capital preferiu não falar mais do assunto.
Cerimónias centrais às moscas
O retiro da Catembe estava inserido no programa da Semana da Juventude. No sábado, era suposto os jovens terem vindo à Praça da Juventude em Maputo, para tomarem parte nas cerimónias centrais. Munguambe admite que tenha havido grandes bebedeiras na Catembe, precisamente porque, diz ter notado que “houve pouca afluência de jovens” às cerimónias oficiais.
“Temos que evitar este tipo de retiro porque parece estar a tornar-se mais clube de amigos para bebedeira do que encontro de jovens”.
Aliás, adianta, “alguns desses jovens já consomem álcool há mais de 10 anos e não será a DJDCM que vai banir esse hábito”. “Apenas devemos evitar a entrada da bebida alcoólica em retiros juvenis”.
De referir que os jovens tinham disponíveis para a festividade na cidade de Maputo cinco camiões e três carrinhas, mas nem com transporte disponível e suficiente para todos, eles se fizeram presentes à cerimónia onde as autoridades se perfilaram para lhes dar – como agora comentam – “uma seca”.
De referir que os jovens que tomam parte nestas iniciativas estatais geralmente são os que andam filiados em organizações de carácter político, designadamente o CPJ (Conselho Provincial da Juventude), CDJ (Conselhos Distritais da Juventude) e outros que no fundo acabam tendo ligações ao partido no poder.
(Conceição Vitorino) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 17.08.2006