Representantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), à excepção de Portugal, estão reunidos em Brasília para elaborar um plano estratégico no campo da alfabetização e da educação de jovens e adultos.
"Não queremos criar uma pauta nova para os países de língua portuguesa.Queremos, através da cooperação Sul-Sul, discutir directrizes no campo da educação e ajudar os países a cumprir as Metas do Milénio estabelecidas pelas Nações Unidas", disse à Lusa o director do Departamento de Educação de Jovens e Adultos do Ministério da Educação do Brasil, Timothy Ireland.
A ausência de Portugal foi lamentada pelos participantes do encontro, o primeiro a nível governamental dos países da CPLP sobre alfabetização.
"Lamentamos profundamente a ausência de Portugal que, apesar de convidado, não deu nenhuma resposta", afirmou Timothy Ireland.
"Esperava que Portugal fosse o primeiro a incentivar o surgimento desses espaços de debate, não porque tivesse sido a potência colonizadora, mas porque tem mais experiência e menos problemas quanto ao analfabetismo, ainda que tenha atrasos consideráveis", assinalou a directora nacional para o Ensino Geral do Ministério da Educação de Angola, Luiza Grilo.
"Parece que Portugal, como país do Norte, não queria participar numa reunião para cooperação Sul-Sul. Mas devia, porque tem muita experiência na área e tem um apoio decisivo a dar a países com dificuldades, como a Guiné-Bissau", acrescentou Armando Noba, director de Serviços de Planificação e Estatísticas da Direcção Geral de Alfabetização da Guiné-Bissau.
Em Lisboa, fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros contactada pela Agência Lusa esclareceu que a ausência de Portugal desta reunião se deveu a "contingências várias", mas assegurou que "Portugal está sempre disponível para iniciativas no sector da alfabetização e no âmbito da CPLP".
"Devido a contingências várias, por um lado com compromissos internacionais diversos neste sector e, por outro lado, com uma reunião internacional sobre alfabetização que se realizou imediatamente antes desta, não foi possível a Portugal dar a resposta que desejava", explicou a fonte.
"Mas, no âmbito da CPLP, Portugal está sempre disponível para integrar iniciativas dos nossos parceiros brasileiros ou dos outros parceiros, considerando o sector da alfabetização de importância vital para a Comunidade", acrescentou.
De acordo com as estatísticas oficiais, o nível de analfabetismo nos países de língua portuguesa é elevado.
Em Angola, por exemplo, a taxa de analfabetismo é de cerca de 60 porcento, segundo Luiza Grilo, com maior tendência para as mulheres.
Já o Brasil possui 33 milhões de analfabetos funcionais, ou seja, pessoas com menos de quatro anos de estudo, e 16 milhões com mais de 15 anos que ainda não foram alfabetizados, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE ).
Em Moçambique, um inquérito realizado pelo Instituto Nacional de Estatística aponta uma média de analfabetismo no país de 51,9 porcento, sendo a taxa ainda maior (66,7 por cento) em relação às mulheres.
Na Guiné-Bissau, o índice é de 63 porcento, revelou à Lusa Armando Noba.
Em São Tomé e Príncipe, a taxa é de 20 porcento e em Cabo Verde, onde quase toda a população fala o crioulo, apesar da língua oficial ser o português, o analfabetismo atinge 25 porcento dos habitantes.
Dos 800 mil timorenses, mais de 40 porcento são analfabetos, sendo que apenas homens e mulheres com mais de 40 anos falam o português, já que se verif ica o domínio do tétum, o outro idioma oficial.
"A questão do multilinguismo está a ser analisada e a alfabetização em várias línguas é um grande desafio. Não se pode impor uma língua como oficial. O processo de alfabetização tem de ser feito na língua materna", afirmou o director do Departamento de Educação de Jovens e Adultos do Ministério da Educação do Brasil.
Timothy Ireland disse ainda que os países em desenvolvimento da CPLP lançaram nesta reunião em Brasília a ideia de um projecto de leitura para novos leitores da língua portuguesa, que não têm muita fluência no idioma, mas também não querem obras infantis.
A proposta é fazer um levantamento da literatura existente em cada país produzida especificamente para novos leitores e lançar uma colecção para ajudar na educação de jovens e adultos e disseminar a cultura dos outros países lusófonos.
O encontro dos representantes da CPLP para discutir a alfabetização de jovens e adultos foi promovido pelo Governo brasileiro em parceria com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
O Brasil e a Unesco arcaram com todas as despesas de transporte e hospedagem dos participantes.
A reunião em Brasília foi considerada uma "oportunidade ímpar" para a troca de experiências nesta área entre os países da CPLP e para a busca de acções coordenadas que possam reduzir as actuais taxas de analfabetismo.
"Contudo, temos que contar com financiamentos. Senão, será mais um plano estratégico que não passará de intenções", assinalou o director nacional de Alfabetização e Educação de Adultos do Ministério da Educação e Cultura de Moçambique , Ernesto Muianga.
O encontro, que começou segunda-feira, termina hoje com uma visita técnica a uma escola nos arredores de Brasília.
LUSA - 17.08.2006
NOTA:
Uma vergonha para todos nós. Será que não havia verba porque foi toda gasta com a recente viagem de José Sócrates ao Brasil? E que os principais jornais e televisões desconheceram?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE