Últimas famílias abandonam o local
Até último fim de semana todas as famílias que viviam no terreno onde vai ser erguida a mansão do ex-presidente da República, Joaquim Chissano, abandonaram o local, situado na Catembe, na zona conhecida por Praia dos Amores.
O «Canal de Moçambique» deslocou-se ao local e falou com as últimas famílias que aindam resistiam a ordem para o abandono do local por diversos motivos.
Casas desfeitas, chapas de zinco no chão, roupas espalhadas, crianças de um lado pais e tios de outro, montes de electrodomésticos entre outro mobiliário à espera de viaturas para ser transportado para o lado da via principal, era o cenário que se podia registar, tudo misturado com roubalheira e confusão protagonizada por carregadores que por um lado queriam o pagamento do serviço prestado e, por outro, os actuais ex-residentes, algo apreensivos não só com a mudança de residência mas também em relação a montantes a serem pagos pela operação de transferência.
Das famílias que aceitaram falar para o «Canal», de comum, manifestaram o seu descontentamento pela retirada compulsiva e do valor de compensação que receberam das autoridades que segundo elas é irrisório. Alguns chegaram mesmo a dizer que tais valores não iriam sequer chegar para pagar as despesas de aluguer de viatura e de todo um trabalho da deslocação que uma transferência motiva.
Para o chefe da família de seis pessoas e pescador, Lázaro Tembe, o descontentamento está patente.
“Eu não estou contente com a mudança por causa do meu trabalho. Sustento a minha família através dos meus dois barcos de pesca. E tudo indica que não teremos permissão de cá vir pescar. Como vou sobreviver assim? Acredito que esta zona vai ser proibida ao povo”.
Alberto Nhantumbo, residente há 22 anos naquele local disse que “vou viver em Malhavane na localidade de Matutuíne. Lamento sinceramente pelas minhas árvores que plantei, nomeadamente, mangueiras, limoeiros, laranjeiras, eucaliptos entre outras cuja fruta pensava comer um dia enquanto viver aqui. O cheque que fui pago não contempla as árvores”, disse Nhantumbo que acrescentou ter recebido de indemnização o montante de 31.750.00Mtn» (pouco mais de 31 milhões da Velha Família). Lamentou sem esquecer falar do seu barquinho e da rede, a chamada mucucule que lhe davam o pão de cada dia.
À espera de uma viatura para a mudança, encontramos a senhora Alice Majinga, mãe de três filhos cujo marido se encontra a trabalhar na África do Sul. Ás questões colocadas respondeu-nos que, “estou a sair para Matutuíne. Como vê as coisas estão todas espalhadas. Estou à espera de um carro. Minha casa era de caniço como quase todas que existiam neste local. A minha casa tinha 12 chapas de zinco e recebi um cheque no valor de 36.750,00 MTn (mais de 36 milhões da Velha Família)”.
“Vou começar começar de 0…e, vou para o mato. O tal dinheiro está acabar antes de começar com a construção de outra casa lá. Vai acabar sem fazer nada. E como sabem que recebemos um cheque os ladrões não param de nos atentar…outro problema na zona…mesmo que não quisesse sair…mesmo que zangue… o governo é que mandou nos tirar não há como negar obedecer”, desabafou.
Quem vai regressar às origens é a dona Rabeca Cumbula que também afirma que a mudança nada lhe agradou. Segundo ela, “nada me agradou. Pensei em procurar um novo espaço aqui na Catembe mas vi que isso iria complicar a minha vida. Comprar um espaço, pagar isto e aquilo e, depois ficava sem nenhum tostão.Vou lá em baixo em Malhakazele, na minha terra de origem. A casa que estou a desmontar tinha 16 chapas de zinco e fui pago 44 milhões de meticais”, terminou alertando que o dinheiro de indemnização foi para tapar com areia os olhos dos demais.
“Era muito pouco”, disse.
Abdulah Assine, engenheiro delegado da «Direcção Construção e Urbanização da Cidade de Maputo», disse que o processo incluindo a compensação das famílias, exumação de sepulturas foi avaliado em 1.450.000.00MTn provenientes do OGE (Orçamento Geral do Estado).
“Foram compensadas cerca de 35 famílias”, concluiu.
(Carlos Humbelino) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 29.08.2006
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/08/manso_para_joaq.html