O CASAL detido sexta-feira última pela Polícia da República de Moçambique (PRM) no distrito de Gorongosa, em Sofala, por prática de crime de homicídio voluntário confessou à nossa Reportagem que consome carne humana para sustentar os seus espíritos. N. Mafunga e N. Faera, de 50 e 34 anos de idade respectivamente, disseram que para conseguir a carne exumam sepulturas especialmente de crianças.
Maputo, Quinta-Feira, 17 de Agosto de 2006:: Notícias
Aquele casal, para além de comer a carne, também consome ossos humanos depois de moidos, misturados com um outro produto tradicional denominado na lingua local por "mbanda". "Não posso negar que não como o corpo humano, porque todo o curandeiro que tem o meu espírito Magamba tem feito isso. Tenho muitas vezes raspado os ossos e misturo com "mbanda". Untamos isso para poder fortificar o espírito Magamba, isso tudo com intuito de salvar vidas humanas", explicou Neva, tendo, repetidas vezes, afirmando tratar-se de um curandeiro cotado no povoado de Vunduzi, sendo por isso que vários outros curandeiros procuram desacreditar o seu trabalho. Por seu turno, N. Faera, a quarta e última esposa de N. Mafunga, subscreveu as declarações do marido, segundo as quais o consumo da carne humana visa fortificar os espíritos Magamba, que consistem em tratar as pessoas usando parte do corpo humano. "Eu cumpria o que meu marido mandava porque ele é curandeiro", defendeu-se Nhanfura, que tem muitas dificuldades de se expressar por alegadamente sofrer de epilepsia. N. Mafunga, que foi detido na posse de órgãos humanos, tais como crânios, dedos e outras partes do corpo, disse que exerce a sua actividade há mais de 26 anos tendo começado na província de Manica. De lá para cá, segundo ele, tem vindo a violar os túmulos por via mágica para obter os ossos como instrumentos para tratar várias enfermidades.
"São os espíritos" que mandam comer carne humana
Maputo, Quinta-Feira, 17 de Agosto de 2006:: Notícias
Questionado sobre como se sentia quando consome carne humana, o nosso interlocutor, com toda a naturalidade, respondeu que "são os espíritos que mandam, não sou eu". Referiu ainda que não precisa de esforço algum para obter as ossadas ou carne porque os espíritos executam tudo o que pretende. No entanto, o presidente do Tribunal Comunitário do Povoado de Vunduzi, naquele distrito, Mairoce Jairoce Campira, encontra-se igualmente detido em conexão com o caso. As autoridades policiais acusam-no de ter facilitado a fuga de Chigaro Chidoma, um dos comparsas dos indiciados. Chigaro Chadoma é tido pelas comunidades locais como sendo igualmente um elemento que consome carne humana, pois foi surpreendido na posse de órgãos humanos. Manença Jairoce, presidente do Tribunal Comunitário e parente do fugitivo nega ter facilitado a fuga do visado, afirmando que deixou as pessoas seguirem para suas residências por forma a fazer mais averiguações. Embora confirme ter visto os órgãos humanos, nomeadamente sangue fresco num frasco, sexo masculino, gordura e ossadas, Manença Jairoce disse que precisava de mais elementos tendo por isso alargado o tempo de investigação. A posição do referido líder do Tribunal Comunitário foi prontamente refutada pelo chefe das Operações do Comando Distrital da PRM, Francisco Alexandre, que afirmou que Jairoce estava a acobertar a fuga do seu parente. Aquele agente referiu que o arguido tinha todos os elementos que incriminassem o fugitivo, mas fez questão de não revelá-los às outras estruturas. Silvério Soda, presidente da AMETRAMO, associação que congrega os curandeiros naquele distrito, explicou que se está perante um acto de bruxaria. Acusou Mafunga de ser um curandeiro perigoso para a nação, porque "não se pode curar usando o corpo humano". "Fomos assistir a ele a fazer exumações. Vocês não vão acreditar, pois ele, usando a sua magia, faz com que os ossos saiam sozinhos da campa, ele é perigoso. Estamos para anular a sua força porque é uma ameaça à sociedade", disse. José Cumbe, comandante distrital da PRM em Gorongosa, disse ao nosso Jornal que a sua corporação está a elaborar um processo-crime de homicídio voluntário. De referir que reina um ambiente de medo nas celas da Cadeia Central onde o casal e o presidente comunitário se encontram detidos. Logo no primeiro dia apareceu na esquadra uma enorme cobra, que se supõe pertencer ao curandeiro. N. Mafunga esboçou um sorriso quando foi questionado sobre a serpente. A cobra não é minha, também não pertence aos espíritos. Como iria aparecer algo de mal se eu não fui maltratado" - questionou.
NOTÍCIAS - 17.08.2006