Controlador de tráfego aéreo e piloto lança a sua primeira obra literária
Um olhar sobre África
A Bertrand do Dolce Vita das Antas foi o espaço que acolheu o lançamento do livro «M’Africando», de autoria de José Cavalheiro Homem. Ivo Machado (poeta açoriano) e Avelina Ferraz (coordenadora editorial da Papiro) acompanharam a apresentação.
Caminhava descontraído pela sala da Bertrand como quem deambula pelas vastas planícies do continente negro. Com uma camisa de linho branca, parcialmente desabotoada, calças de ganga e um saco de tiracolo desbotado, José Cavalheiro Homem (um heterónimo para Adelino José Cavalheiro Gonçalves) exsuda um espírito aventureiro, uma essência sui generis de quem está habituado à vivência africana.
Decorre a apresentação do seu livro, «M’Africando», obra que o autor confessa ter começado a germinar na sua mente na infância. Tinha 10 ou 11 anos e vivia em Luena, uma cidade situada num planalto, no leste angolano, isolada do mundo. Um isolamento que na sua opinião fez nascer “um espírito de amizade e cooperação difícil de descrever e de igualar”. Durante esse período da sua vida foi confrontado com o hábito das caçadas. O conceito horrorizou-o. Cavalheiro Homem explica que na maior parte das vezes caçava-se por caçar, não por necessidade, mas por mero entretenimento. “Por vezes não tinham espaço nos jipes para transportar os animais mortos, então deixavam-nos e partiam em busca de novos alvos”, exclama o autor.
Essa tradição e todo um conjunto de vivências que gravitam à sua volta, despertaram no autor sentimentos que, mais tarde, alimentariam esta sua obra. Uma viagem recente a Moçambique foi o tónico que precisou para proceder à sua materialização.
Avelina Ferraz confessa que o livro a atraiu pela caracterização, descrição e ambientação, factores que fazem do livro uma interessante metaforização do continente africano.
A coordenadora editorial destaca o aspecto linguístico inventivo, onde o autor engendra palavras (identificadas no livro a itálico) que “dão a musicalidade às descrições e ajudam a sustentar os diálogos fictícios entre humanos e animais”.
O recurso à linguagem metafórica também deleitou Ivo Machado. “Uma metáfora avassaladora pode abrir a grande porta do imaginário” diz, salientando que “é isso que se espera de um livro”.
O poeta considera que um livro é o passaporte mais verdadeiro para qualquer viagem, porque é por si mesmo uma viagem: “Com «M’Africando» o leitor peregrinará por esse país onde os homens escutam a linguagem das árvores – Moçambique”.
Victor Melo
PRIMEIRO DE JANEIRO - 30.07.2006