Segundo dados do Ministério da Saúde
Ainda que os números oficiais possam ser uma pura ilusão, Maputo província e Maputo-cidade, são campeãs nacionais da toxicodependência. Os dados são do Ministério da Saúde (MISAU) e, segundo eles, as duas registaram, durante o ano passado, 448 casos de internamento relacionados com o consumo de álcool e outras drogas nos seus serviços de «Psiquiatria e Saúde Mental.
O segundo lugar no “campeonato de toxicodependência”, é ocupado pela província de nortenha de Nampula que registou no mesmo período 105 casos de internamento. Na cauda da lista dos casos de toxicodependência que deram entrada nos serviços de saúde, está a província da Zambézia com apenas 3 casos de internamento. No documento do MISAU, na posse do «Canal de Moçambique», não se faz referência alguma a província de Tete que, segundo algumas correntes de opinião, tem níveis consideráveis de produção de Cannabis-sativa, vulgo suruma, diga-se ainda, com fama de ser da melhor qualidade, conhecida até como «Kota-kota» só comparável à do Malawi.
Paradoxo
Paradoxalmente, as actividades de prevenção primária e promoção da saúde mental desenvolvida pelo Ministério da Saúde, não tiveram quer a província, quer a cidade de Maputo como seus principal focos. Dados do mesmo documento indicam que as províncias de Gaza e da Zambézia foram as que mais actividades de prevenção primária acolheram. Essas duas províncias acolheram cada uma, um total de 48 palestras direccionadas à prevenção primária e promoção de saúde mental. Enquanto isso a cidade e província de Maputo, líderes oficiais no ranking nacional de toxicodependência, foram brindadas, em conjunto, com apenas 11 palestras. Atrás da província de Maputo só estão as províncias de Inhambane e Manica com 7 e 8 palestras respectivamente. De realçar que a província de Manica constitui também o famoso triângulo «angoniense» que abarca zonas de Tete, Manica e Malawi, onde se produz uma das melhores surumas do mundo, a «Angoniense Sativa», vulgo «kota-kota».
Álcool: a tentação
O documento que temos estar a fazer referência indica que o consumo de álcool foi a principal causa de internamentos nos serviços de psiquiatria e saúde mental no país. Os dados do Ministério da Saúde referem que no ano 2005 foram registados em todo o país, 290 casos de internamento motivados pelo consumo excessivo de álcool. Imediatamente a seguir, estão os casos de internamento motivados pelo consumo de cannabis. Registaram-se 227 casos de internamento por consumo da famosa “erva”. O custo de internamento para desintoxicação na Enfermaria de Psiquiatria do Hospital Central de Maputo é de 1.850,00 MTn (Um milhão e oitocentos e cinquenta mil meticais da Velha Família).
No entanto, o MISAU refere no mesmo documento que “as actividades realizadas, a nível de prevenção terciária e reabilitação, são reduzidas, limitando-se na maior parte das vezes ao seguimento, nas consultas externas, dos doentes que estiveram internados para tratamento”. Isto equivale dizer que o ministério dirigido por Ivo Garrido, na sua estratégia de reabilitação não tem dado primazia à vertente da reintegração social dos ex-toxicodependentes. O Ministério da Saúde justifica a situação pela “escassez de recursos humanos e materiais, e pela inexistência de redes nas comunidades para o acolhimento dos doentes após alta”.
Números “caricatos”
Em entrevista recente ao «Canal de Moçambique” ( vsff canal n.º 129), o coordenador da Rede Nacional de ONG’S Moçambicanas Contra a Droga ( RNOMCD), Manuel Condula, chegou a denominar de “caricatos” os números governamentais relativos ao consumo de droga no país. Segundo disse então, os números apresentados pelo executivo eram inferiores ao que se passa no terreno em matéria de toxicodependência. Para Condula, “o governo tem que ser capaz de apresentar dados, nem que sejam estimativos, do número de toxicodependentes e não ter por base só os indicadores de internamento das unidades sanitárias”. Os dados do documento na posse do «Canal de Moçambique», têm como base apenas as informações das unidades sanitárias. Na ocasião, Manuel Condula, acusou as autoridades governamentais de “nada fazerem a nível da prevenção terciária” que é, na sua opinião, “a parte mais complicada da reabilitação de um toxicodependente”. O documento do ministério dirigido por Ivo Garrido veio dar razão ao líder da «RNOMCD». O documento do MISAU, no capítulo referente a “prevenção terciária”, limita-se a apresentar uma série de justificações para a inexistência de acções. Nada mais avança a não ser as habituais lamentações de sempre.
(Celso Manguana) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 30.08.2006