Senhor Editor do Media fax
Rogo-lhe imensoravelmente para que se digne a autorizar a publicação desta carta, no espaço apropriado para a publicação de cartas dos leitores deste jornal eletrónico, do qual V. Excia é o competente editor.
As recentes substituições do Comandante Geral da Policia e do Chefe da Casa Militar não passam de uma gotinha no meio do oceano, e mais adiante, explico-me com mais e melhores detalhes.
Quando o Sr. Armando Emílio Guebuza se candidatou ao cargo de Presidente da República, criou-se uma enorme expectativa no seio dos moçambicanos e na comunidade internacional no geral, incluindo os políticos da oposição no geral. Razão pela qual o número de concorrentes a inquilinos do palácio da Ponta Vermelha reduziu significativamente se compararmos com os processos eleitorais de 1994 e 1999.
É que os moçambicanos no geral, depositaram toda a sua confiança em Guebuza; um homem capaz e competente, bastante experimentado e maduro política e academicamente, assim com visão cultural abastada, economicamente folgado, uma das figuras de referência na história da luta de libertação de Moçambique, negociador chefe do difícil processo que culminou com a assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, para além de cargos ministeriais que ocupou tanto na governação Samoriana como de Joaquim Chissano, chefia da bancada parlamentar e o cargo de Ministro sem pasta, sendo único moçambicano que conhece os dissabores desta pasta.
Todos esses atributos, fizeram com que os moçambicanos e não só, não duvidassem das competências e qualidades do Sr. Armando Guebuza em assumir com zelo e responsabilidade a presidência da República.
Muitas foram as promessas durante a campanha eleitoral, como é óbvio, sobretudo no que diz respeito ao combate a corrupção, ao deixa andar e o excesso de burocracia no Aparelho do Estado.
Só que o tempo vai passando e não se vislumbram as mudanças prometidas. Os males apontados como alvos de combate continuam em pedra e cal, visíveis e vividos por todos nós da camada baixa desta nojenta sociedade. Nos hospitais, maternidades, esquadras, pic, tribunais; a policia de trânsito e camarária nas estradas, continuam a protagonizar cobranças ilícitas a vista de quem quer que seja.
Ironicamente, as ilicitudes tornaram-se mais visíveis e evidentes com Guebuza no trono do que na éra de Chissano, numa alusão ao desafio a Guebuza, sem o mínimo de receio e medo porque até aqui nenhum corrupto já foi punido exemplarmente. Só se fala de corrupção e nunca são apresentados os respectivos corruptos.
Do jeito que as coisas estão, não tenho a menor dúvida de que o primeiro mandato de Guebuza e terceiro consecutivo da Frelimo em moldes democráticos, não passará de uma total decepção e desilusão para os moçambicanos e comunidade internacional que nunca poupou esforços no sentido de apoiar o governo a alcançar o programa qüinqüenal de governação.
A falha de Guebuza, começou logo na formação do seu executivo, misturou trigo com joio, ou seja, pegou nas mesmas pessoas de confiança do seu antecessor, a quem durante toda a fase de campanha eleitoral acusou de corruptos, burocracistas e deixa andaristas. Manteve alguns ministros da era de Chissano, incluindo a Primeira Ministra, promoveu ex-governadores a Ministros e Vice-ministros, para além de Administradores Distritais, Directores provinciais e nacionais, comandantes, Procuradores chefes, entre outros dirigentes da era de Chissano que continuariam intactos.
Como é que o Presidente Guebuza quer combater a corrupção, com aqueles que outrora acusou de corruptos como seus colaboradores mais directos?
Impossível. A menos que o propalado mega congresso ( IX ) tome grandes decisões e corajosas para grandes mexidas na equipa governativa, que possam trazer-nos grandes mudanças.
Enquanto continuarem no poder e como colaboradores mais directos de Guebuza, peças chaves na governação de Chissano, como são os casos da Primeira Ministra, Presidentes dos Tribunais Supremos e Administrativos, Procurador Geral da Republica, entre outros, as recentes mudanças de Comandante Geral da Policia e do Chefe da casa Militar não terão nenhum efeito pois, estaremos ainda sob governação de Chissano a distância e com remote control, porque nunca quererá deixar seus créditos em mãos alheias.
Aliás, quando Guebuza prometeu combater a corrupção, o deixa andar e excesso de burocracia, estava-se a referir directamente que iria combater todos os males que caracterizaram a governação do seu antecessor, o qual, de certeza absoluta não gostou dessas críticas acusatórias. Qualquer um não iria gostar. Dai que na medida do possível, tudo fará para obstruir a governação do seu sucessor, por forma a que este não saia bem sucedido.
Tanto a Primeira- Ministra, como o Procurador- Geral da Republica, Presidentes dos Tribunais e alguns Ministros da era de Chissano que se mantiveram nos cargos, fazem parte da equipe que foi acusada por Guebuza de promotores do espírito do deixa andar. Para volta e meia, serem confiados os mesmos cargos governativos e com eles pretender combater tais males que eles próprios foram promotores.
Qualquer coisa aqui que não está a encaixar. Parece-me que o Presidente ainda não decidiu o que quer. Só que o tempo não está parado até que tome tal decisão. E já lá se foram dezoito meses.
Seja como for, desejar sucessos e êxitos no seu mandato Sr. Presidente.
No fim do mesmo, não venha em publico dizer: " missão cumprida " porque ainda está a dever todas as promessas eleitoralistas.
Adolfo Samuel Beira
Analista politico independente
MEDIAFAX - 23.08.2006