Beira: Ruínas “históricas” e outras
“Infelizmente ainda não tivemos qualquer resposta no sentido do Município poder vir a gerir essas tantas ruínas existentes nesta cidade. Nós já fizemos pedidos à Direcção de Obras Públicas e Habitação mas, não nos respondem”- Eng.º Daviz Simango
(Beira) A cidade da Beira, capital da província de Sofala, regista algumas melhorias na gestão municipal, nomeadamente no que respeita à recolha do lixo, resselagem de buracos nas rodovias, abertura de valas de drenagem, principais problemas que há anos vinham afligindo os munícipes locais. Mas “não há bela sem senão”. Um pouco por toda a cidade existe uma ruína a atentar contra a estética da urbe. Por ocasião das comemorações do 99º aniversário da cidade da Beira, que se assinalou domingo último, o «Canal de Moçambique» ouviu sobre o assunto o presidente do Conselho Municipal, Eng. Daviz Simango.
O presidente não faz falsas promessas: “A presença de ruínas na cidade da Beira ainda vai persistir por muito tempo”. Simango afirma acreditar na demora da solução do problema porque, alega, “não é da competência municipal mas, sim, do governo provincial, mais concretamente, da Direcção Provincial da Obras Pública e Habitação”. O presidente diz já ter submetido a esse organismo do governo provincial propostas com vista à gestão das ruínas passar para o Município mas, entretanto, afirma não ter conseguido respostas satisfatórias.
Há vários tipos de ruínas espalhadas pela cidade. Umas albergam malfeitores que dali empreendem acções de vandalismo nas várias artérias. Essas acabam sendo uma espécie de bases de certo tipo de criminalidade. Outras, acolhem famílias comuns de baixa renda. São uma preocupação estética mas ali não nascem outros problemas que afectem a segurança dos demais munícipes. Contudo, todas elas correm o risco de desabar a qualquer momento e isso preocupa permanentemente porque a vida de famílias acaba estando em perigo. As autoridades competentes, pelo que se nota, insistem no «deixa-andar» tão badalado pelo chefe de Estado e pelo “easy master voice” dos repetidores do “policamente correcto”.
O «Canal de Moçambique» apurou entretanto que muitas dessas ruínas possuem proprietários. Pessoas que não atam nem desatam. Não só não reabilitam essas ruínas como não deixam outras pessoas desenvolverem-nas. Pedem fortunas por elas quer para venda quer para reabilitação e nada as obriga a cuidar da estética horrível que dão à cidade.
Num breve contacto com o «Canal de Moçambique» no último domingo, Daviz Simango lamentou o facto da sua edilidade não ter qualquer resposta sobre o pedido que efectuou às «Obras Publicas», no sentido da autarquia passar a gerir essas ruínas.
“Infelizmente ainda não tivemos qualquer resposta no sentido do Município poder vir a gerir essas tantas ruínas existentes nesta cidade”, afirmou Daviz Simango. “Nós já fizemos pedidos à Direcção das Obras Públicas e Habitação mas não nos respondem”.
Simango refere, entretanto, que há várias pessoas singulares e colectivas, diversas instituições que estão interessadas em remodelar as ruínas da Beira obedecendo à traça arquitectónica original que as caracteriza e insere em diferentes épocas da história da cidade, mas não podem avançar devido à indefinição a que as «Obras Públicas» insistem em deixar andar o caso. Muitas dessas ruínas são referências arquitectónicas e colocavam a Beira nas rotas do conhecimento para estudantes do ramo. Com a indiferença que persiste – a partir de agora pelos vistos apenas por parte das autoridades centrais – não pode reafirmar-se essa vertente da cidade.
“Alguns dos edifícios degradados são de há mais de cem anos”, relembra Daviz Simango que acrescenta: “Aquando do processo de nacionalizações os mesmos foram abrangidos”.
“Alguns com o advento de alienação passaram para as mãos de privados, daí que o município nada pode decidir sobre o seu futuro”, conclui Simango.
Foi o governo central que atribuiu as ruínas a pessoas sem obedecer a critérios que salvaguardassem o seu futuro e agora na óptica do edil da Beira metem a cabeça debaixo da areia como se nada lhes coubesse de responsabilidade.
“Estamos de mãos atadas, não podemos fazer nada. Assistimos a degradação progressiva destes edifícios”.
Quanto a pintura dos edifícios da cidade, Daviz Simango disse que a autarquia em tanto que instituição não tem fundos para mandar pintar os imóveis, no entanto, disse que a edilidade promove e cria facilidades para tal.
(T.L.) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 23.08.2006