Portugal “está bem classificado, na perspectiva de um país em desenvolvimento”, no compromisso de ajuda aos países mais desfavorecidos, mas tem de fazer mais. Esta é a conclusão de um estudo do Centro para o Desenvolvimento Global (CDG) que avalia áreas e características do apoio que nem sempre são mensuráveis em termos monetários e que dão ao nosso país um 16.º lugar. No que respeita estritamente a ajudas financeiras, e segundo dados do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, em 2005, a ajuda portuguesa foi de pouco mais de 303 milhões de euros.
Nic Bothma, Epa
Erradicar a pobreza é um dos objectivos do Milénio. Outro é que cada país ‘rico’ destine 0,7% do seu PIB a ajudas
A nível global, as ajudas financeiras aos países mais pobres aumentaram 31,4% para os 83,2 mil milhões de euros, de acordo com o CDG, que não discrimina o montante de ajudas por país.
No Índice de Compromisso com o Desenvolvimento do CDG, Portugal surge no 16.º lugar, com uma pontuação global de 4,8 pontos, à frente de países como Espanha, França, Itália ou Japão, o último da lista com apenas 3,1 pontos. Os primeiros lugares da tabela são ocupados pela Holanda (6,6 pontos) e Dinamarca (6,4 pontos), enquanto governos liderados por quem mais fala em combater a pobreza – Estados Unidos e Reino Unido – têm uma classificação próxima da portuguesa. Os britânicos estão em 12.º lugar com 5,1 pontos, seguidos pelo norte-americanos – 13.º lugar e 5 pontos.
O estudo decompõe a ajuda em sete áreas, ou seja, avalia o compromisso em ajuda humanitária, comércio, investimento, migração, ambiente, segurança e tecnologia.
Nesta avaliação por áreas, Portugal até nem surge mal colocado em algumas frentes. Tem o sexto lugar na lista dos países que mais participam em missões de paz ou humanitárias. O relatório elogia Lisboa por não vender armas a governos não democráticos e por ter apoiado, tanto a nível financeiro como através do envio de pessoal, as missões na Bósnia e no Kosovo.
No que respeita a barreiras à importação de produtos oriundos de países desfavorecidos, Portugal está em sétimo lugar. O ambiente é outra área onde o país surge bem cotado – em oitavo lugar – por ter os mais elevados impostos sobre produtos petrolíferos e a menor taxa de emissão de CO2 per capita.
Menos positivo é o contributo para o desenvolvimento tecnológico dos países desfavorecidos, bem como o investimento realizado nesses países. Nesta matéria, o Governo português é criticado por não participar em iniciativas de transparência e por não ter em conta o impacto social dos projectos que apoia.
O estudo nota, ainda, que a posição portuguesa tem vindo a melhorar desde 2003.
GOVERNO PREFERE APOIAR PALOP
As áreas do Índice de Compromisso com o Desenvolvimento nas quais Portugal está pior classificado são a ajuda humanitária e a migração. Na primeira, o País é criticado por apenas enviar dinheiro “para um conjunto restrito de países”. Basta olhar para os dados do Instituto de Apoio ao Desenvolvimento, para se perceber que a maior fatia da ajuda financeira vai para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Já no que respeita à migração, o CDG chama a atenção para o facto de apesar de apoiar um grande número de estudantes de países desfavorecidos, Portugal praticamente não recebe refugiados em momentos de crise.
APOIO PORTUGUÊS
36 millhões de euros foi quanto Portugal deu em ajudas financeiras a Cabo Verde, em 2005.
28 millhões de euros foi o que recebeu o povo de Timor-Leste no ano de 2005.
18 millhões de euros foi a ajuda dos Estado português ao governo moçambicano no ano passado.
16 millhões de euros receberam as autoridades de Luanda em apoios de Portugal.
10 millhões de euros em ajudas financeiras foi a fatia que coube à Guiné-Bissau.
OPINIÕES
"SENSÍVEL E SOLIDÁRIO" (Vítor Melícias, Padre)
“Pela experiência que tenho no apoio a Timor-Leste, considero que Portugal é sensível e solidário. No entanto, carece de ser motivado nas horas certas”, considerou ao CM, o padre Vítor Melícias, acrescentando que os apoios financeiros prestados “são razoáveis e estimulantes, mas podemos ser melhores desde que sigamos um caminho, uma metodologia e organização da cooperação”.
"POSIÇÃO HONROSA" (Fernando Nobre, AMI)
“É um lugar muito honroso, principalmente se tivermos em consideração que a nível de desenvolvimento Portugal anda entre o 25.º e o 30.º lugar”, sustentou Fernando Nobre. O presidente da AMI frisou, ainda, que a classificação no Índice do CDG “quer dizer que não somos indiferentes ao que se passa à nossa volta”. “Agora o que é preciso é que não nos limitemos ao espaço da língua portuguesa”, adiantou.
"AINDA VAMOS SUBIR PONTOS" (D. Januário Ferreira, Bispo)
Para D. Januário Torgal Ferreira, “os portugueses são um povo naturalmente solidário, só precisa que lhe apresentem objectivos verdadeiros e necessários”. “Tenho a esperança que, um dia, ainda venhamos a subir uns pontos nessa contagem global”, frisou o bispo das Forças Armadas, lembrando que já por muitas vezes os portugueses deram mostras do seu espírito solidário para com quem mais necessita.
Sandra Rodrigues dos Santos - CORREIO DA MANHÃ - 21.08.2006
NOTA:
Tudo bem! Mas para quando a solidariedade para com os "portugueses" cá de casa?
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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