TRÊS novas variedades de mandioca tolerantes à doença de apodrecimento radicular da mandioca (BSC), um problema que está na origem da queda de produção daquela cultura e consequente registo de bolsas de fome, foram testadas com sucesso em alguns campos agrícolas da província de Nampula, num processo que envolveu técnicos nacionais, em colaboração com o Instituto Internacional da Agricultura Tropical.
Maputo, Segunda-Feira, 28 de Agosto de 2006:: Notícias
Trata-se das variedades "Mulaleia", "Nashinhaya" e "Nikwaha" que, para além do fenómeno de podridão radicular, são tolerantes às pragas como as de cochinilha, as doenças do mosaico africano, queima bacteriana e listrado castanho do tubérculo que afectam predominantemente as folhas. A Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que através da "Save The Children", uma organização não-governamental a operar na província, financia a execução de um programa de investigação de variedades tolerantes ao vírus que provoca a podridão radicular da mandioca, processo que para além do pessoal técnico do Ministério da Agricultura conta com a colaboração do Instituto Internacional da Agricultura Tropical, colocou nos últimos quatro anos à disposição de 37868 camponeses dos distritos de Memba, Nacala-a-Velha, Porto, Ilha de Moçambique, Mossuril e Mogincual, um total de 4.3 milhões de estacas de "Mulaleia", "Nashinhaya" e "Nikwaha". Em Nacala-a-Velha e Memba, as populações congratulam-se com a iniciativa da introdução das três variedades tolerantes a BSC. Em Rojolo, soubemos de Maria João, uma das camponesas ali residente, que a comunidade já cultivou uma machamba de cerca de meio hectare, que funciona como um banco de produção de estacas de "Mulaleia", "Nashibhaya" e "Nikwaha", algumas das quais estão a ser vendidas a algumas organizações que operam no sector de agricultura. Segundo disse, "o tipo de mandioca que consumíamos em tempos, localmente conhecidos por "Nassuruma", "Nammuishi", "Mpova Takua", era muito amargo, eu cheguei a perder uma filha devido ao consumo deste tipo de tubérculo", disse, contudo, que este esforço está sendo afectado pela acção de ladrões que roubam os tubérculos para o consumo e venda nos mercados internos.
De referir que a cultura de mandioca é a base alimentar das mais de quinhentas mil pessoas dos distritos onde o problema de podridão radicular daquele tubérculo se faz sentir, razão pela qual, feita uma avaliação crítica, pode-se concluir que, não obstante ao programa de mitigação do BSC, que neste momento abarca 37868 famílias, muita coisa tem de ser feita. Chande Ossufo, coordenador da extensão rural na "Save The Children", reconhece que o défice de satisfação das necessidades é ainda maior, numa altura em que se fala de registo de outros casos BSC, em Moma e Angoche.
"Estamos a tentar mobilizar mais fundos para a expansão do programa", explicou a fonte. Soubemos que apesar do BSC ter sido identificado pela primeira vez no ano de 1950, os esforços científicos até aqui desenvolvidos, estão longe da identificação de uma forma de erradicação da doença.
Em Moçambique, consta que a doença entrou via República da Tanzania, através da província de Cabo Delgado, com as movimentações das populações na fronteira, para além de visitas familiares e trocas comerciais, contemplam a troca de material vegetativo. Foi exactamente no ano de 1994, quando da passagem do ciclone "Nádia" que estacas afectadas pelo BSC foram introduzidas em Nampula, adquiridas pelas instituições religiosas que operavam no âmbito de emergência, daí que algumas destas estacas têm como nome "Caritas".
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/05/a_mandioca_e_mo.html