Mueda em 1972 era de facto assim. Há muito pouco a comentar dado o rigor factual do que Martins escreveu, apenas ouso complementar com alguns dados pouco importantes, mas fiquei tão contente por poder recordar tudo aquilo (não se trata de saudosismo mas de verdadeira ligação pessoal e emocional a Mueda e a Cabo Delgado em geral com tudo o que foi e é hoje)
- Do outro lado do aldeamento existia outra cantina que era do Serra, que explorava também uma Escola de Condução) - Aí perto, no aldeamento existia uma casa de alvenaria onde semanalmente havia projecção de filmes para todos os gostos... muitos filmes indianos e alguns da Europa e USA nessa sala assisti a uma projecção "Uma leoa chamada Elsa"
- Para se fazer uma ideia da evolução da guerra em Cabo Delgado a situação em Novembro de 1973 era caracterizada pelo facto de não haver ligação por viatura de Mocímboa da Praia a Mueda. - o A M (aeródromo de manobra) era como designávamos o local onde estacionava a Força Aérea e por aí se fazia a ligação - o aviao bombardeiro a uma hélice era o T 6 - operava tb umas "banheiras" - D O s - Mueda depois do ataque referido foi por diversas vezes abonada com projecteis emitidos a partir da poderosa rampa de 122
- No bar dos furrieis do esquadrão, era comentado em surdina pelo pessoal de armas pesadas dos 0buzes que apesar dos sistemas estarem apontados para alvos, à última hora eram produzidas alterações no destino dos projécteis, desconfiando-se de conluio dos oficiais do quadro permanente com a Frelimo
- Em Antadora (situada antes do Largo de Oasse) na estrada de Macomia para Mueda ou Mocimboa da Praia já nao se passava para Sul por rodovia, a tropa ali aquartelada desde Outubro de 1973 passava fome e sede de modo que ao chegar a Mueda pensei tratar-se duma grande cidade com todas as condições, de facto ali havia muita comida, muita cerveja e muitas macondes, nada disso existia em Antadora.
- Muito me diverti nos batuques e na noite, único branco a pernoitar no aldeamento apesar dos avisos que me faziam no esquadrão, sempre fui bem tratado e apesar do ambiente de guerra, sempre havia programa com a Teresa e a Fátima cão - macondes, e sempre muita cerveja e até vinho !
- Meses depois, de novo em Mueda, assisti à revolta da guarnição liderada pelo pessoal do contingente da província, e ao intensificar da guerra, das emboscadas, contra as companhias de quadrícula qiue abandonavam os postos avançados para chegar a Mueda.
- Entretanto, em Mocímboa da Praia, o ambiente era completamente diferente, apenas operações de segurança e muita descontracção
- Em Julho de 1974, fui entregar Diaca, a uma delegação da Frelimo onde na última coluna, transportei diversas famílias que ali se radicaram e que tínhamos aprisionado meses antes em Antadora... a Muari Shingolo, o marido Martins Lucas quye era guerrilheiro tb ali capturado e a velha maconde, mãe da Muari.
- Em Maio de 2006 regressei a Mueda, a Diaca... ( A Muari tinha falecido de doença, o Martins Lucas estava acantonado em Nampiula, doente e velho, a velha maconde falecera tb) e em Diaca, conheci a filha da Muari, a qual ao me identificar como antigo furriel enfermeiro de Antadora me caiu nos braços desmaiada, para logo que recuperada ter ido buscar as fotos antigas do tempo de aprisionamento da mãe, no posto de socorros onde eu a tratava. E chega por agora. Cumprimentos.
João Asseiceiro
Retirado da net
Veja:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2006/08/recordaes_de_mu.html
NOTA:
O sublinhado é da minha responsabilidade
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE