Contribuições para a História de Moçambique
por Samora Machel
“In” Voz da Revolução n.º7, Janeiro de 1970
Se fosse vivo, Samora Moisés Machel, o primeiro presidente da República em Moçambique completaria hoje 73 anos.
“Nós viemos de uma sociedade onde dominava a mentalidade dos colonialistas, nós viemos para a revolução carregados de vícios e defeitos. Alguns moçambicanos vieram para a Revolução movidos pela ambição, para terem postos altos num Moçambique independente. Outros vieram porque os portugueses não lhes deixavam explorar à vontade o trabalho dos outros: os portugueses queriam ser os únicos a explorar. Então esses moçambicanos vieram para a revolução para correrem com os portugueses e tomarem o lugar deles na exploração do povo. Outros vieram porque gostam de vida fácil, bebidas, mulheres. Como os portugueses, com o seu regime de opressão, não permitiam esta vida, então eles disserem: Vamos lutar contra os portugueses para podermos ter estas coisas.
Estes moçambicanos vieram para a revolução com esse espírito. E quando viram que a revolução não permite a satisfação dos seus interesses pessoais, que os postos são dados de acordo com a capacidade de cada um, que a exploração é completamente banida, que a disciplina é estrita e rígida – esses moçambicanos quando viram isso começaram a vacilar. Formaram grupos descontentes, prontos a agir contra as forças verdadeiramente revolucionárias, logo que surgisse a primeira oportunidade. E quando os agentes inimigos chegaram e começaram a procurar elementos para organizar contra a direcção revolucionária da FRELIMO, encontraram terreno fértil entre esses descontentes.
É esta a explicação das dificuldades que a FRELIMO teve mesmo de enfrentar nos últimos dois anos: contradições, mesmo ao nível da direcção superior da FRELIMO. Isto não quer dizer que todos os elementos contra-revolucionários que já caracterizámos tenham sido neutralizados. Não, a luta no nosso seio continua. É uma luta longa e difícil, quase interminável, que tem que começar connosco próprios, pois os vícios que trouxemos da sociedade colonialista não desaparecerão se não lutarmos duramente contra nós próprios, se não procurarmos a cada passo corrigirmo-nos, dentro de uma perspectiva revolucionária. Mas podemos dizer a revolução está consolidada porque fomos capazes de abertamente reconhecermos os nossos erros, denunciarmos o oportunismo, a corrupção e tudo aquilo que dava força aos agentes que queriam desintegrar-nos. Soubemos afirmar qual a orientação correcta para a nossa revolução – identificada com a formulação formulada pelo nosso querido Presidente Mondlane” (Samora Machel).
(“In” Voz da Revolução nº7, Janeiro de 1970).
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