Livro já célebre, publicado há já onze anos, pelo Nobel português, deve ter sido inspirado no, à época, futuro no Brasil.
Vivemos uma fase de contos de fadas, do “faz-de-conta”, da mentira mais que deslavada e dum judiciário e dum congresso (letra minúscula) que não quer ou não tem tempo ou... mas que permite que tudo acabe na velha pizza.
Os escândalos sucedem-se de forma vertiginosa. Milhões roubados daqui, quadrilhas a derrubarem a Amazônia ali, mais além a ininterrupta ação de assaltantes a perfurar túneis para alcançar cofres de bancos, outras a falsificar senhas bancárias para se apropriarem do alheio, outras ainda forjando certidões de morte para levantar o dinheiro de aposentados, o intenso tráfego de armas dos países vizinhos para os traficantes, o PT a fazer cada vez mais sujeira, sobretudo aqueles mais chegados ao chefe da nação e... só quem vê é a Polícia Federal e a população que lê o noticiário.
O chefe... não sabe de nada. Nunca ouviu sequer falar nisso. Nem tomou conhecimento quando o filho enriqueceu dum dia para o outro vendendo uma empresa de araque.
É uma cegueira geral, e tão geral que assim mesmo o chefe vai ser reeleito! Vamos continuar a ver esculhambar a ética e a moral, os escândalos a continuarem (se não a aumentarem) e não há oftalmologista que nos salve desta.
Perante tamanho desmando e descalabro só os três macacos é que agüentam: não ver, não ouvir e não falar!
Em países pseudo emergentes, como o Brasil e a China, a “democracia” é uma lindeza: na China são condenados à morte entre 50 a 100.000 indivíduos por ano, muitos deles abatidos na praça pública com um tiro na nuca. Manda o governo, que diz que não gosta de traficantes, de ladrões, etc. No Brasil morrem assassinados com um tiro em qualquer parte do corpo, que brasileiro não é tão preciosista, uns 50.000. Mandam os bandidos, que não gostam do governo nem de concorrentes! E o governo fecha os olhos.
A grande vantagem está, sem sombra de dúvida a favor do Brasil. Aqui pode falar-se, divulgar-se e comentar. Mas fica tudo por isso mesmo. Na China não se pode falar, nem divulgar o que o governo não quiser, mas em compensação pouco ou nada “fica por isso mesmo”.
Há dias faltavam coleiras para apertar a goela desses políticos sem vergonha que nos enganam a toda a hora (já não enganam mais, nós é que “fazemos de conta”). Parece que o que está faltando agora são colírios para desobstruir a falta de “visão” dos responsáveis, determinação, isenção e velocidade no judiciário para enfiar essa corja na gaiola, sem esquecer uma salva de palmas para o intenso e eficaz trabalho que a Polícia Federal tem vindo a fazer.
Mas... e depois de desmascaradas as quadrilhas, o que acontece ao pessoal?
Muitos vão voltar como deputados e senadores!
Já não é só cegueira. É demência.
Francisco G. Amorim
JORNAL DO BRASIL - 20-set-06