Tenho três diferentes sistemas de controlo de acessos a um dos meus blogues que me indicam as visitas e, simultaneamente, me informam sobre quem e como acederam aos mesmos. Já tenho tido surpresas e nem sempre agradáveis da forma como a ele acederam. Mas a maior – ou talvez seja ingenuidade minha e nem seja tão disparatado assim – aconteceu num destes dias, a partir de Bahia, Salvador, através do Google. A pergunta foi, tão-somente, esta: “5 países africanos que falem língua do Brasil”. Tão só!!!
Por Eugénio Costa Almeida
Mestre em Relações Internacionais e Doutorando em Ciências Sociais
E depois admiramo-nos que o Brasil decida criar uma data, que por acaso é a data de nascimento de um escritor brasileiro, no próximo dia 5 de Novembro, para celebrar o “Dia da língua Portuguesa” ou, em certa altura – não sei se ainda se mantém esta prática – as televisões e os cinemas brasileiros legendarem filmes e séries portuguesas.
O problema, e isto se existir, de facto, um problema, está no facto dos brasileiros não reconhecerem a sua língua como “Língua Portuguesa” mas como língua do Brasil.
E a culpa é de quem?
Não será, de certeza, dos brasileiros ou dos outros falantes da Lusofonia.
Quem deveria defender e projectar a Lusofonia? Os PALOP, o Brasil, Timor?
Não!!!
Cabe ao antigo colonizador e “implantador” da língua defendê-la.
Aos colonizados cabe-lhes enriquecê-la com ditos locais e defender, no caso dos países afro-lusófonos, a existência das suas línguas tradicionais. Ao antigo colonizador cumpre-lhe a obrigação de não a deixar desfalecer.
E o que tem feito o antigo colonizador?
Nada!!! rigorosamente nada ou quase nada.
Não é com a existência de um quase decrépito Instituto Camões ou de um infeliz portal luso-governamental sobre a Lusofonia – ah! este é a designação acolhida pelo Centro de Documentação Jacques Delors para a língua portuguesa – que Portugal, defenderá e salvará a Lusofonia.
Também não será com a “eliminação” de adidos culturais nas suas embaixadas que conseguirá que a Lusofonia não deixe de ter matriz portuguesa e se transforme, progressivamente, numa Brasilofonia.
Quais são e qual a proveniência dos principais programas televisivos, em língua portuguesa, dos PALOP e de Portugal?
Igualmente não pode esperar que os afro-lusófonos fortemente assediados pelos Institutos francófono, anglófono ou castelhanos se devam preocupar com a defesa da Lusofonia. E muito, acreditem ou não os sucessivos governos portugueses, têm feito para Lusofonia e pela quase inoperante CPLP.
Alguém questiona a pujança e o impacto, nos países onde estão colocados, do Instituto Francês ou do Instituto Cervantes na defesa das línguas francesa e castelhana?
É interessante ver o desplante do Instituto Camões em evidenciar o trabalho de Universidades internacionais na defesa da língua portuguesa. Só que se esquece de complementar que esse trabalho e essa preocupação se deve a leitores e estudantes da Lusofonia locais ou das autoridades brasileiras e, em regra – para não afirmar sempre – sem qualquer apoio das autoridades portuguesas.
Realmente, e perante estes factos, como posso ficar surpreendido com a pergunta colocada no Google?
Mas também se os dicionários (em português, de Portugal, e português, do Brasil) do “Word” desconhecem a palavra “Lusofonia”.
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