Datas históricas atiradas para o plano secundário
Por Jaime Ubisse
Já lá vão os tempos em que a Praça dos Heróis rebentava pelas costuras para as comemorações das datas históricas do País.
Esta quinta-feira, nas comemorações do 07 de Setembro, dia da vitória, o Governo moçambicano manifestou preocupação perante a indiferença que a sociedade tem vindo a demonstrar na comemoração das principais datas históricas do País.
As cerimónias centrais alusivas à efeméride tiveram lugar na Praça dos Heróis, em Maputo, um evento que contou com a presença do Chefe de Estado Armando Guebuza.
Porém, a cerimónia foi marcada pela fraca participação de populares, notando-se apenas a presença de membros da OMM, liga feminina do partido FRELIMO, membros do Governo, corpo diplomático e familiares de alguns antigos combatentes.
Este cenário contrasta com as enchentes e o júbilo que nos anos a seguir à Independência caracterizava a celebração das datas históricas do País.
Algumas pessoas ouvidas pelo nosso semanário apontaram que a indiferença deve-se à pouca divulgação das cerimónias, degradação de valores morais e falta de tempo.
A chuva que se fez sentir na ocasião não foi apontada como estando na origem da fraca aderência do público.
Ernesto José, 10 anos, estudante da Escola Secundária Estrela Vermelha, quando questionado sobre que informações tinha do 7 de Setembro, disse, sem rodeios, que apenas sabia que se tratava do dia dos Acordos de Lusaka, ignorando, entretanto, todos os acontecimentos que justificam a sua importância.
"Recordo-me de já ter tido informações dessa data na escola. Mas confesso que não sei o que é que exactamente isso siginifica", disse.
O nosso jornal ouviu ainda outro cidadão da considerada velha geração.
Trata-se de Custódio Pinto, comandante geral da Polícia da República de Moçambique. O Major General foi categórico ao apontar o sistema de educação como a principal culpada pela indiferença da juventude para com os momentos históricos do País.
"Há falhas no sistema de ensino. As matérias são abordadas de forma superficial. Há que encontrar outras vias, como a introdução da disciplina patriótica, até ao nível básico ou reforçar os conteúdos dos programas sobre História de Moçambique", sentenciou.
Convidado a pronunciuar-se sobre a situação, o ministro da Educação e Cultura, Aires Aly, classificou de grave a falta de valorização da história do País, por parte da maioria da juventude.
Guerra civil culpada
Entretanto, justificou que o fenómeno deve-se à guerra civil que, durante 16 anos, desorganizou a população e prejudicando a formação integral da sociedade. "Estamos cientes desta situação. Daí que, no programa do Governo, colocamos como grande prioridade a formação patriótica e a elevação da auto-estima. É também verdade que precisamos de melhorar as formas de transmissão desses valores. A nossa história é recente, o que pode contribuir para o enriquecimento da história dado estarem ainda vivos alguns dos seus protagonistas", realçou, acrescentando que os encarregados de educação são também responsáveis pela formação moral e cívica das crianças".
Contudo, antigos combatentes da luta de libertação nacional estiveram, esta quinta-feira, numa festa de confraternização, no distrito da Manhiça, pela passagem do 32º aniversário da assinatura dos Acordos de Lusaka.
SAVANA - 08.09.2006