Com Guebuza empenhado em resgatar sua figura
Se fosse vivo, o primeiro Presidente de Moçambique Samora Machel completaria hoje 73 anos de idade. Machel, que governou o país com “mão de ferro” sustentada em ideias marxistas-leninistas durante 11 anos – os mesmos que Gungunhana ficou à frente do «Império de Gaza» – nasceu a 29 de Setembro de 1933, em Chilembene, na província de Gaza. A sua morte ocorreu a 19 de Outubro de 1986, em Mbuzine, na África do Sul, num acidente de aviação que 20 anos depois já está para uns plenamente compreendido, para outros ainda envolto em mistério que admitem haver ainda que desvendar, e para outros ainda também já plenamente esclarecido mas que não lhes convém reconhecer para que continue a permitir manter “o Povo” em tensão para disso colherem dividendos políticos.
A tese do Governo moçambicano, cuja Comissão de Inquérito for dirigida pelo actual Presidente da República Armando Guebuza, defende que o referido acidente foi orquestrado pelo “regime sul-africano”. Contudo, observadores independentes defendem que a queda do avião presidencial foi um “acidente aéreo normal na aviação”.
Em certo momento, a viúva de Samora Machel, Graça Machel “Mandela”, hoje esposa de «Madiba», falou de uma “mão moçambicana” na suposta conspiração que pôs termo às vidas do primeiro presidente de Moçambique e de parte considerável da sua delegação. Ela, inclusivamente, chegou mesmo a sugerir em público e privado que essa mão estranha estaria mais próxima de si do que se poderia pensar. Hoje Graça Machel vai tendo outra atitude e outro discurso e o seu nome vai soando como a mais provável futura Secretária-Geral do partido Frelimo que em Novembro realiza o seu 9.º Congresso em Quelimane.
Guebuza “abraça” Machel
Os aniversários de Samora Machel, o 73.º do nascimento e o 20º do acidente de Mbuzine, este a comemorar-se no próximo mês e já a indignar o Arquitecto José Forjar que se queixa de os sul-africanos estarem a destruir o monumento que ele desenhou em memória do seu camarada em Mbuzini, têm sido aproveitados pelo actual Chefe do Estado Armando Guebuza, de forma quase obsessiva, para resgatar a figura do primeiro presidente de Moçambique, com quem até constou sempre não ter relação amigável nos últimos anos do defunto presidente.
A actual “paixão” Guebuziana por Samora Machel vai ser motivo para a construção, com dinheiros do erário público, de vários monumentos, um pouco por todo o país, em “homenagem” ao homem que sucedeu a Eduardo Mondlane, também este assassinado, em casa da americana Betty King, em Dar-es-Salaam, numa fase de grandes convulsões entre facções no movimento de libertação FRELIMO.
Ao que parece, Armando Guebuza, não se importa de aplicar dinheiros públicos que, bem podiam ser úteis para viabilizar outra sua grande “paixão”, o “combate a pobreza absoluta”, no seu esforço de fazer uma “continência” ao Marechal Machel. Recentemente, Armando Guebuza, usou o termo, “figura lendária” para caracterizar Samora.
A “paixão” que o Presidente da República vem denotando por Samora Machel tem levantado algumas interrogações nos vários círculos de opinião pública. Para algumas correntes de opinião “torna-se difícil explicar tal paixão”, sobretudo porque em alguns pontos cruciais “as suas visões são divergentes.”
“Enquanto que o actual Presidente da República é tido como acérrimo defensor e precursor da burguesia nacional, Samora Machel combatia esta classe social que a considerava exploradora e inimiga do povo”, sustentam as referidas correntes de opinião para elucidar as referenciadas “visões divergentes”.
Armando Guebuza é tido como dono de “um império empresarial” impossível de se construir na Era Samoriana.
Enquanto durou a chancelaria de Samora Machel, ocorreram inúmeros casos de detenção de cidadãos nacionais cujo “crime” foi terem “sinais visíveis de riqueza”.
Branqueamento da história?
Outro ponto que tem merecido debate na opinião pública tem a ver com o que se considera ser “branqueamento de um período da história”. Segundo os defensores desta ideia, Armando Guebuza, “na sua operação de resgate a Samora Machel” tem sido omisso em relação a determinadas facetas do regime machelista. Nas suas alocuções, o Presidente da República, presidente do Partido no poder e SG da Frelimo não faz referência ao “lado negro” do referido período como sejam: campos de concentração ou de “reeducação”, fuzilamentos, chamboqueamentos, crise alimentar e outras práticas que só “serviram para dividir o povo moçambicano”. Esta situação, defendem, leva a que os mais jovens entendam a governação de Samora Machel com “romantismo” e sem “realismo”.
Romântico ou realista, Guebuza não poupa esforços de “ressuscitar” Samora Machel. E é este o filme que se vai seguir neste meio turno do primeiro mandato de Guebuza e após 18 anos de governação a que Joaquim Chissano condenou pura e simplesmente a imagem de Samora ao ostracismo para fazer crer que eram passados os tempos do «anti-imperialismo» em que Moçambique «seria túmulo do capitalismo e da exploração».
(Celso Manguana) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 29.09.2006
NOTA:
Ou eu me engano muito ou este "abraçar" a Samora não é mais que ir buscar a sua imagem como um apoiante "virtual" para o ciclo de eleições que se aproxima.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE