- Moçambique sem dados da real situação
Por Fernando Mbanze
O Relatório Mundial da População referente ao presente ano apresenta um verdadeiro SOS sobre a necessidade de melhorar a situação das mulheres imigrantes que representam metade de toda a migração internacional, estimada em cerca de 191 milhões.
O mesmo documento denuncia que a problemática da migração internacional está a tornar um verdadeiro tráfico de pessoas, negócio esse que rende aos traficantes milhões de dólares. Segundo dados constantes na publicação do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), tornado público, esta quarta-feira em Maputo, o tráfico de pessoas é o terceiro negócio mais rentável no mundo depois do tráfico de armas e drogas.
Enquanto a situação ao nível global mostra-se completamente preocupante, Moçambique continua a não ter estatísticas em relação a esta problemática, ou seja, não se sabe, no concreto, quem entra e quem sai de Moçambique.
Em relação a estas dificuldades de possuir uma base de dados concretos da migração, Adriano Ubisse, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, disse que o Governo de Moçambique está preocupado com a situação e esforços estão sendo feitos no sentido de termos informações concretas do fenómeno migração.
Entretanto, disse que, em relação às pessoas que emigram para trabalhar no estrangeiro, correspondem a apenas 2.1 porcento da população total moçambicana. Estes rendem ao País cerca de 58 milhões de USD/ano.
Uma das grandes preocupações do FNUAP é a violação dos direitos humanos, principalmente das mulheres migrantes que é caracterizada por vários tipos de abusos incluindo sexuais e laborais. Nesta ordem de ideias, aquela instituição das Nações Unidas apela aos governos do mundo no sentido de
elaborarem políticas que possam preservar os direitos fundamentais dos cerca de 191 milhões de migrantes do mundo. Deste número, cerca de 95 milhões são mulheres.
"Muitas vezes, o trabalho das mulheres imigrantes não é visível e não é reconhecido. Mas este relatório mostra que as mulheres imigrantes contribuem bastante para as famílias e comunidades nos países de asilo e país de origem. Os estudos mostram que elas enviam uma proporção maior das suas economias para o país de origem do que os homens", referiu a representante do FNUAP em Moçambique, Petra Latnz.
Segundo ela, apesar do número significativo e das contribuições substanciais feitas, tanto para as famílias e países de origem e de asilo, as mulheres imigrantes são, muitas vezes, ignoradas, desempregadas e abusadas. Para se ultrapassar esta situação, apela o FNUAP, há a necessidade de uma cooperação mais forte entre os países a fim de tornar a migração mais segura e justa.
Segundo o relatório, o tráfico de pessoas no mundo é alicerçado pelo facto de as políticas de migração serem bastante restritivas, facto que limita grandemente a migração segura ou legal.
Outra manifestação da imigração feminina é a massiva saída de enfermeiras dos países em vias de desenvolvimento, para a Europa, principalmente com objectivo de buscar melhores condições para a vida. Segundo dados disponíveis, na Europa existem 10 vezes mais enfermeiras per capita do que em África e a tendência das necessidades europeias tendem a aumentar consideravelmente.
Por exemplo, prevê-se que, em 2008, a Grã-Bretanha necessitará de 25 mil médicos e 250 mil enfermeiros, enquanto que os Estados Unidos projectam que, em 2020, mais de 1 milhão de postos para enfermeiras terá que ser preenchido. Grande parte destas necessidades será preenchida por profissionais de países em vias de desenvolvimento.
"Na Europa e na América do Norte, as populações estão a envelhecer e a carência de enfermeiras e médicos está a aumentar a demanda para mais pessoal da saúde. Nos países pobres, as mulheres e homens formados estão a optar pela migração como um meio para melhorar as suas próprias vidas e das suas famílias, numa altura em que estes países enfrentam uma crise de saúde sem precedentes no mundo moderno", alertou a representante do FNUAP em Moçambique.
SAVANA - 08.09.2006