O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, disse ontem, em Maputo, que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) é de todos os moçambicanos, razão por que a gestão não deve obedecer a critérios partidários.
Maputo, Quarta-Feira, 1 de Novembro de 2006:: Notícias
"Gostaria que a gestão da HCB fosse transparente e não passasse como uma propriedade da Frelimo. O chefe do Estado assinou em nome do povo de Moçambique e não assinou em nome do Governo ou do partido Frelimo", disse Dhlakama falando a jornalistas pouco depois da assinatura do protocolo de reversão e tranferência para o Estado moçambicano, do controlo sobre a HCB. Ontem foi das poucas vezes que Afonso Dhlakama presenciou a uma cerimónia pública. O líder da Renamo acrescentou que "queremos que a HCB sirva os interesses do povo de Moçambique. O meu receio é o passo a seguir à assinatura do protocolo", disse. Ao abrigo do referido protocolo, rubricado pelo Presidente da República, Armando Guebuza e o Primeiro-Ministro português, José Sócrates, Moçambique passa a controlar 85 porcento das acções da HCB, ficando Portugal com os restantes 15 por cento, recebendo Portugal 950 milhões de dólares americanos. Portugal vinha detendo 82 porcento das acções contra apenas 18 porcento de Moçambique. Contudo Dhlakama escusou-se a falar da sabotagem de mais de mil torres de transmissão de energia eléctrica da linha Mocambique-África do Sul a partir de Songo, província de Tete, perpetrada pela Renamo durante a guerra terminada em 1992. Sendo um empreendimento gigante, o líder da Renamo defende a extensão da rede de energia para todos os distritos, exactamente aquilo que o Governo está a fazer actualmente, a seguir ao fim da guerra. "Não podemos falar do desenvolvimento de Moçambique enquanto a energia não chegar aos distritos e localidades", disse. Quem abordou as sabotagens de forma directa foi Raul Domingos, então chefe do Estado Maior da Renamo durante a guerra, hoje líder do PDD (Partido para Democracia e Desenvolvimento) depois de ter sido expulso da Renamo, em 2000. Falando à AIM, Raul Domingos confirmou ter dado ordens para a sabotagem de um total de 2027 torres de transporte de energia eléctrica a partir da HCB para África do Sul. "Um dos vectores de força de uma guerra de guerrilha é eliminar a capacidade económica do adversário e, neste caso, o nosso adversário (Governo moçambicano) precisava de sentir que a sua capacidade económica estava a ser limitada", disse. A AIM questionou a Domingos se estaria arrependido por ter tomado tal decisão, tendo respondido sem rodeios que "não". "Penso que justamente por isso, ao fim de poucos anos, conseguimos o Acordo de Paz que pôs termo aos 16 anos de guerra", explicou Raul Domingos. Falando da cerimónia de ontem, Raul Domingos classificou de "momento de júbilo e histórico para Moçambique". Segundo ele é o abrir de uma nova página nas relações entre Moçambique e Portugal, o complemento da independência política. Numa cerimónia bastante concorrida que decorreu no salão Nobre do Município de Maputo, na Praca da Independencia, o presidente Armando Guebuza apresentou uma comunicação em que sublinhou, entre outros aspectos, que aquele acto remove do solo pátrio moçambicano, "o último reduto, marco da dominação estrangeira". "Este protocolo simboliza, assim, o rompimento com o passado e o alvorar de uma nova era nas relações entre os nossos dois países, impregnadas de esperança e expectativa", disse Guebuza. Por seu turno, José Soócrates descreveu o acto como sendo um "acordo histórico sobre a história do passado". (AIM)