"Os discursos políticos são diferentes dos factos, a criminalidade é um facto que faz sofrer as pessoas, ... Estes dois dias foram perdidos", o respeitado advogado e deputado, Máximo Dias.
"A Renamo revelou-se como responsável moral dos linchamentos ," Feliciano Mata, da Frelimo.
Maputo - A Renamo descreveu o informe do executivo moçambicano sobre a situação de segurança no país e as medidas para a sua redução, como uma fantochada e uma prova de falta de seriedade com eleitorado.
"Não estamos satisfeitos com a contribuição do governo... saímos como entramos", desabafou António Muchanga, deputado pela bancada parlamentar da Renamo, em entrevista ao mediaFAX.
O ministro do Interior, José Pacheco intervindo na sessão do parlamento, disse que em termos estatísticos, a criminalidade havia reduzido no país, incluindo em Maputo a capital, a sede do poder político.
Mas, este discurso contraria à prática no terreno, e onde diariamente se reportam casos de linchamentos de supostos criminosos, por populares enfurecidos pelo crescendo da criminalidade violenta em Maputo e arredores.
Muchanga, entende que o governo não deve apenas afirmar que o povo deve parar de recorrer ao linchamento para acudir aludidos casos criminais. "Não se deve dizer que o povo deve parar de incinerar pessoas, quando nada se faz para reduzir a onda de criminalidade", reafirmou Muchanga.
O respeitado advogado Máximo Dias, partilhou da mesma opinião do colega de bancada, afirmando que, "ninguém saiu satisfeito... tanto a Renamo, assim como a própria Frelimo", no esclarecimento e debate de dois dias, sobre criminalidade no país.
Dias disse que o tema em apenso, foi desviado para assuntos marginais, como troca de acusações sobre fraudes eleitorais e guerra de desestabilização, envolvendo os dois mais importantes partidos representados no parlamento, a Frelimo no poder e a Renamo, na oposição.
Curiosamente, a Renamo deixou-se arrastar pela Frelimo, na troca de acusações violentas entre os membros das duas bancadas. "Os discursos políticos são diferentes dos factos, a criminalidade é um facto que faz sofrer as pessoas", denunciou Dias, que solicitou o pódio para abandonar a sala, em sinal de protesto com o rumo do debate da plenária. "Estes dois dias foram perdidos", sublinhou Máximo Dias, uma das vozes independentes no interior da Renamo.
Mas, uma leitura diferente tem a Frelimo sobre a informação do ministro do Interior sobre a criminalidade. O porta- voz do partido no poder, Frelimo, Feliciano Mata, disse em entrevista ao mediaFAX que a sua bancada estava satisfeita com a informação transmitida pelo governo. "O ministro fez uma abordagem responsável do crime", assinalou Mata.
Disse que apesar das acções que tem vindo a ser implementadas para o combate a criminalidade no país, havia toda uma necessidade de se proceder a cada vez mais esforços para estancar este mal social, que retira a tranquilidade e ordem pública.
Continuou que a Frelimo, reiterava a necessidade do desencorajamento dos linchamentos, dado se tratar de actos criminais.
Acusou a Renamo de estar a fazer um aproveitamento político das acções dos linchamentos, evocando que tal justifica a falta da intervenção da polícia. "A Renamo revelou-se como responsável moral dos linchamentos", acusou Mata.
O ministro moçambicano do interior, José Pacheco, referiu que a sua instituição estava aberta para qualquer denúncia dos factos criminais. Disse que estava igualmente em preparação uma ofensiva contra a rede de criminosos, em particular em Maputo, sem adiantar mais pormenores.
"O governo é contra a prática de linchamento porque em Moçambique não existe a pena de morte", explicou Pacheco. A poderosa liga moçambicana do Direitos Humanos já veio à público insurgir-se contra à pratica dos linchamentos, por violação crassa ao direito à vida, plasmado na Constituição moçambicana.
(Benedito Luís/redacção) - MEDIA FAX - 27.10.2006