Numa conferência em que o Governo foi acussado até pela Nigéria como uma paradigma da corrupção, o vice-ministro das Finanças expô-lo ao ridículo e nem ousou «defender a dama», como faria todo aquele que dignifica as calças que veste
Nos dois dias em que a Iniciativa para a Transparência do Indústria Extractiva (Eiti–sigla inglesa) esteve reunida na capital norueguesa, Oslo, Angola foi objecto de chacota e até de comparações insultuosas. Insultos que, se totalmente infundados dariam, seguramente, lugar ao corte de todo o tipo de relações com que os proferiu. Infelizmente, não parece ser o caso...
Durante a conferência, vários intervenientes referiram-se a Angola como um caso paradigmático da falta de transparência na utilização dos recursos minerais e da corrupção.
Logo numa das primeiras intervenções, a ministra da Educação da Nigéria, Obiageli Ezekwesili(na foto), referiu-se a Angola como um caso acabado de economias em que a abundância dos recursos naturais tem uma enorme preponderância sobre os altos níveis de pobreza aos invés de contribuir para o bem-estar das populações.
O caso angolano é, segundo se depreende das declarações da ministra nigeriana, apropriado para enquadrar o conceito da «maldição dos recursos», introduzido no seu discurso pelo presidente o Banco Mundial, Paul Wolfowitz, para definir economias em que a existência de abundantes recursos minerais gera instabilidade e pobreza.
Para Obiageli Ezekwesili, só a República Democrática do Congo, onde reinou durante anos a fio um ditador insaciável em matéria de apropriação ilegítima de fundos públicos, é comparável a Angola.
Posteriormente, um alto funcionário da Ifc, uma agência do banco mundial, citou Angola pelo que disse ser já uma notável sofisticação da corrupção.
Quando o funcionário quis justificar a necessidade de governos, empresas e bancos aderirem a essa iniciativa, o funcionário da Ifc citou mais um vez:
Angola, país onde disse que a corrupção é intermediada pelos bancos.
A seguir, um alto oficial da Statoil, uma empresa petrolífera norueguesa com interesses no nosso país, levantou a questão de que a sua empresa tinha tido dificuldades em declarar quanto pagava ao governo angolano e que só com base em aturadas pressões recebeu a anuência deste para produzir os números a isso inerentes.
Um representante da Oxfam espanhola apegou-se ao caso angolano para determinar se é possível à iniciativa da transparência saber o que está a acontecer no nosso país em matéria de gestão de recursos petrolíferos, com base numa compilação de dados de todas as companhias que operam no país.
Aparentemente Angola chama a atenção da Eiti pela incidência da «maldição dos recursos» da sua economia e pela sua recusa em aderir aos princípios da organização, manifestada há quatro anos em Londres, quando representantes do Governo se disseram contrários a que as companhias petrolíferas declarassem o que pagam.
Sara Wykes, uma oficial da Global Witness ligada a campanhas para transparência na indústria petrolífera, nomeadamente a campanha «Publique o que paga», disse ao Semanário Angolense que considera que a opção do Governo angolano «assemelha-se um pouco a uma farsa».
Segundo ela, o Governo angolano apega-se a um argumento aparentemente sem sentido para evitar apresentar uma recusa explícita aos princípios da transparência.
O problema persiste, sobretudo porque, disse Sara Wykes, «o povo angolano merece um debate público sobre este assunto».
Oct 21, 22:17
Fonte:Semanário Angolense