Combate à pobreza
".. Se eu faço uma estrada tenho que fazer com um sentido empreendedor e não só fazer estrada para fornecer um bem público .... As decisões que são tomadas pelo Estado, do ponto de vista político, tem que estar ligadas com visão específica e concreta de desenvolvimento no seu todo... " , um professor universitário, Castelo Branco.
Maputo – O Estado é desafiado a ser empreendedor se o objectivo é corrigir os níveis de pobreza que afectam mais de metade da população moçambicana, afirmou um dos mais conceituados economistas locais, Nuno Castelo Branco, falando numa conferência económica em Maputo.
O combate à pobreza absoluta, está na ordem de prioridade da agenda do novo executivo do Presidente Guebuza, que tomou posse em Fevereiro de 2005.
"Se eu faço uma estrada tenho que fazer com um sentido empreendedor e não só fazer estrada para fornecer um bem público", desafiou quarta-feira, Castelo Branco, intervindo numa reunião de um dia sobre "Planeamento e estratégias para o combate à pobreza", organizada pelo Millennium bim, um dos maiores bancos privados do país.
A conferencia que reuniu a nata fina, entre políticos, académicos e empresários, tinha como objectivo-chave fazer uma análise da pobreza, não como um fenómeno específico, mas sim como parte da realidade económica e social do país.
O encontro destinava-se igualmente a abordar a ideia de uma interacção entre o investimento privado e público, num processo que possa contribuir para que a economia no geral não possa gerar pobreza, mas sim fazer participar os cidadãos no processo de produção e garantir o acesso a riqueza produtiva.
"As decisões que são tomadas pelo Estado, do ponto de vista político, tem que estar ligadas com visão específica e concreta de desenvolvimento no seu todo, e, não decisões que são tomadas com base em ideias como combater a pobreza absoluta em si, por que essas são coisas muito vagas, muito gerais, que não dão um foco concreto de organização da actividade económica e social dentro da acção pública" , censurou Branco, que é igualmente docente na UEM, a principal e mais antiga universidade pública do país.
Apesar dos grandes projectos económicos, Mozal projecto de Gaz de Pande, Moçambique continua na lista dos países mais pobres do mundo, com os cerca de 19 milhões de habitantes a viverem com menos de um dólar por dia, segundo índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas .
Branco apelou para um investimento de base alargada "uma base que cobre o país interagindo e articulando diferentes áreas, entre grandes, pequenas e médias empresas", disse Branco, um acérrimo opositor a um desenvolvimento do país, na base de grandes empresas como a Mozal.
Um dos responsáveis seniores do Millennium bim, organizador do evento, o economista Mário Machungo, disse que a escolha do tema pobreza para o debate impunha-se pelo facto de se tratar de um assunto de actualidade e que preocupa os moçambicanos.
"É um tema que merece ter uma abordagem mais reflectida com enfoque mais técnico e científico", assinalou Machungo, antigo primeiro-ministro no executivo de Machel.
Esclareceu que a pobreza deve ser vista como um processo que se transforma. "Uma pessoa é pobre hoje e, amanhã com outros aspectos de desenvolvimento pode ter uma outra pobreza", anotou Machungo.
Concluiu que os temas exigiam maior envolvimento e maior sentido de responsabilidade no pensamento dos problemas e na forma para a sua resolução.
(Benedito Luís) - MEDIAFAX - 12.10.2006
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