Leopold Sedar Senghor nasceu a 9 de Outubro de 1906, na aldeia de Joal-la-Portugaise, no Senegal.
Leopold Sedar Senghor, o intelectual e político senegalês que fez da Negritude um conceito integrador da sociedade africana e da cultura africana no Mundo, nasceu a 9 de Outubro de 1906, na aldeia de Joal-la-Portugaise, no Senegal. Foi o primeiro presidente do Senegal independente (1960 a 1980). Senghor afirmou-se sobretudo como intelectual. Nas palavras do político e intelectual cabo-verdiano André Corsino Tolentino, em artigo publicado na revista Seara Nova, "como político, sobreviveu no fio de um rosário de contradições".
Residente no Senegal até 1928, ano em que terminou os estudos secundários, Senghor mudou-se para Paris onde cultivou um círculo de amigos que incluía Aimé Césaire, com quem desenvolveu o conceito de Negritude - "o conjunto dos valores da civilização do mundo negro tal como se expressam na vida e nas obras dos negros" - e o futuro presidente Georges Pompidou.
Trabalhou como professor em França e juntou-se ao exército francês no início da II Guerra Mundial, durante a qual foi durante 18 meses prisioneiro de guerra num campo alemão. Após o conflito, Leopold Sedar Senghor foi eleito, em 1945 e 1946, para representar o Senegal nas Assembleias Constituintes francesas.
De 1946 a 1958, foi continuamente reeleito para a Assembleia Nacional Francesa, onde sempre assumiu posições políticas conservadoras e se bateu por uma solução federalista para as colónias francesas em África, contra a ideia de "independência total".
Durante este período, foi secretário de Estado da presidência do Conselho no governo francês de Edgar Faure, de Março de 1955 a Fevereiro de 1956, e tornou-se presidente da Câmara de ThiŠs, no Senegal, em Novembro de 1956.
Quando o Senegal se juntou ao Sudão francês para formar a Federação do Mali, Senghor garantiu a presidência da Assembleia Federal até ao desmoronamento da aliança, em Agosto de 1960.
Foi então, segundo Corsino Tolentino, "a contra-gosto, porque achava que o tempo ainda não tinha chegado", que conduziu o Senegal à independência e assumiu a presidência do país para os 20 anos seguintes.
Tratou-se de um período em que governou, segundo os observadores, com uma assinalável moderação, conscientemente consentindo uma dependência em relação à França e deixando, em 1980, um país pobre mas, ainda segundo o político cabo-verdiano, com uma democracia formal e pacífico, com excepção do difícil caso de Casamança.
O relacionamento do presidente Senghor com os movimentos de libertação africanos, designadamente os das ex-colónias portuguesas, não foram fáceis, devido sobretudo às suas arreigadas convicções federalistas, mas Amílcar Cabral acabou por convencê-lo e a partir daí cooperou, sobretudo com o PAIGC.
A transferência do poder, voluntária, para Abdou Diouf, em 1980, foi pacífica e várias vezes foi apontada como exemplo a seguir no continente.
Em 1983, já a residir em França, foi eleito para a Academia francesa, onde se tornou o primeiro africano na história da instituição. Após a sua morte, em 20 de Dezembro de 2001, esse lugar foi ocupado pelo antigo presidente francês Valery Giscard d'Estaing.
E foi Giscard d'Estaing que, ao ocupar a cadeira que antes o acolhera, afirmou: "Senghor avançou por caminhos que levam à civilização do universal, estes caminhos que ele próprio descreveu, com uma intuição fulgurante, como 'paralelos assimétricos'".
O conceito de Negritude, que foi desenvolvendo ao longo de toda a sua vida, marca ainda hoje as relações, sobretudo culturais e civilizacionais, em África e com África, apesar de ao princípio ter sido incompreendido, quer por defensores da continuação das colonizações, quer pelos movimentos de
libertação africanos.
Chegou a ser identificado, quer como uma forma de racismo, quer como um complexo de inferioridade, o que Senghor sempre recusou.
"A negritude é apenas uma vontade de ser ele próprio, para se diluir, se integrar no mundo das civilizações, ou melhor, na civilização do universal", explicou Senghor.
Ao impor a sua ideia de negritude, em África e no mundo - sobretudo em França -, Senghor rejubilou: "A negritude, consagrada em África por André Malraux e, com ele, por escritores, professores, investigadores brancos, entre os mais célebres, tinha a partir daqui direitos de cidadania. Ninguém podia voltar a negar a sua originalidade, nem tentar fazer de nós seguidistas que apenas serviam para fazer más cópias".
Leopold Sedar Senghor, poeta com seis livros publicados, ensaísta da Negritude, sobretudo nos cinco volumes das suas "Liberdades", era doutorado honoris causa por 37 universidades, incluindo a portuguesa de Évora.
As suas distinções vão desde à Medalha de Ouro da Língua Francesa, ao Grande Prémio Internacional de Poesia da sociedade dos Poetas e Artistas de França e da língua francesa, ou ao Prémio Internacional do Livro da UNESCO.
Fica recordado sobretudo pela ideia da Negritude, que definiu de uma forma cosmopolita que poderia ser aplicada à sua própria vida pública: "Totalmente humana, porque formada por todas as contribuições de todos os povos de todo o planeta Terra".
P.S.: Enviado por Luis M. Antunes