Nota de Abertura
Cabora Bassa foi a última epopeia, o derradeiro esforço entre os actos mais sublimes dos Portugueses no meio milénio que passou desde as Descobertas marítimas que deram «novos mundos ao mundo» até à chamada 'Revolução dos Cravos' (1974) e à política seguida pelos seus responsáveis, civis e militares, de entrega das Províncias Ultramarinas a movimentos ditos «de libertação».
Como viria a reconhecer Ernesto Melo Antunes, tido como o ideólogo do Movimento das Forças Armadas, tratou-se de um «erro grave» essa «cedência ao voluntarismo dos movimentos» que não estavam minimamente preparados para a condução dos novos países e, ainda por cima, se subordinavam à «influência das grandes potências» que na altura disputavam o controlo do Continente Negro.
Portugal não era um país rico no início da segunda metade do século XX, mas o seu progresso era contínuo desde a recuperação das finanças públicas e da economia que houve que fazer após o desastre da Primeira República.
Em 1926, Portugal estava arruinado - e foram necessários muitos sacrifícios também durante a Guerra Civil de Espanha (1936-39) e a II Grande Guerra (1939-45). Felizmente, a gestão exigente e eficaz do Doutor António de Oliveira Salazar permitiu crescer sempre e resistir mesmo aos 'ventos da História' que levaram outros países europeus a abandonar precipitadamente as suas colónias africanas, deixando para trás territórios com fronteiras desenhadas na Conferência de Berlim há apenas três quartos de século e com povos ainda tribalizados e impreparados para uma razoável governação.
A resistência de Salazar estava, aliás, na linha do que pensavam velhos republicanos e grandes patriotas como o general Norton de Matos, que foi candidato à Presidência da República contra o regime do Estado Novo, mas que, já na década de 50, escreveu no seu livro 'África Nossa':
«Queremos assimilar inteiramente a nós as raças de cor que vivem em territórios portugueses; aumentar o povoamento desses territórios por meio de famílias brancas portuguesas; construir sem demora o edifício completo e perfeito da Unidade Nacional. Não queremos nada que se oponha a estas três aspirações nacionais».
Quase 'todo o mundo' se colocou, na altura, contra o Portugal pluricontinental e multicultural (ainda que, nos bastidores da ONU, estadistas africanos segredassem elogios à atitude de Salazar). Donde se poder dizer que, para além dos meios humanos e materiais escassos, o Governo do Estado Novo enfrentava uma situação internacional muito adversa quando ousou lançar, em Moçambique, o Plano de Desenvolvimento do Vale do Zambeze.
Tratava-se, porém, de um projecto grandioso que visava arrancar do subdesenvolvimento uma vastíssima região africana, onde o Portugal metropolitano cabia duas vezes e meia. E Salazar avançou, ainda que também tivesse contra si alguns (poucos) Velhos do Restelo que havia entre os seus ministros.
As acções que se seguiram ao arranque dos primeiros estudos, que se fizeram no terreno, exigiram heroísmo. Até porque elas se desenrolaram nas montanhas, nas florestas e nas savanas ardentes onde se veio a acoitar a subversão armada que matava - a tiro de Kalashnikov ou com minas traiçoeiras que enterrava nas picadas -, os oficiais de vários ofícios que se empenharam em fazer nascer, naquelas paragens inóspitas (e, por isso mesmo, tão despovoadas...), uma nova Civilização.
Lamentavelmente, não se foi além do 'pinhal de naus por fazer'. Mas o Plano do Zambeze (com Cabora Bassa pronta a debitar energia nas linhas de transmissão, para vários países), esse, ficou lá. E com bases sólidas para que outros o ponham a navegar. Se não for (como até 1974) com caravelas velozes e capazes de vencer o Adasmastor do subdesenvolvimento num momento mais antecipado da História, pois que seja com barcaças menos ágeis e num tempo mais longínquo...
O que importa é que não se deixe naufragar aquele sonho bonito!