Segundo o “Memórias em Voo Rasante” a ser lançado no final do ano
Por Fernando Mbanze
A obra de Jacinto Veloso relata episódios que marcaram a vida do autor ao longo das últimas quatro décadas, com destaque para os processos de negociação dos Acordos de Lusaka, em Setembro de 1974, Acordo de Nkomati, em Março de 1984, e os contactos secretos levados a cabo com várias personalidades, incluindo líderes da RENAMO, com a finalidade de se alcançar a paz para Moçambique.
Quando Jacinto Veloso abandonou Moçambique, a 12 de Março de 1963, pilotando um avião militar Harvard T-6, da força aérea portuguesa, para se juntar à FRELIMO na Tanzânia, o plano era de também levar consigo Samora Machel, que já então se assumia como um líder político, e por isso era perseguido pela PIDE.
Esta revelação e outros episódios da luta pela independência são revelados no livro “Memórias em Voo Rasante”, da autoria de Jacinto Veloso, que, segundo pudemos confirmar junto do autor, estará à venda antes do final do ano em Maputo.
Segundo conta Jacinto Veloso no seu “Memórias em Voo Rasante”, infelizmente, o plano de viajar com Samora Machel não foi concretizado porque o avião só podia levar duas pessoas e quem acompanhou Veloso foi João Ferreira, mentor do referido plano.
O avião militar descolou da Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado, tendo aterrado em Dar-es-Salaam, com Veloso nos comandos do aparelho.
Com a sua determinação de lutar contra o colonialismo português, Samora Machel acabaria chegando a Dar-es-Salaam via Botswana, depois de conseguir um lugar cedido num avião por Joe Slovo, que foi comandante do braço armado do ANC, o Umkhonto we Sizwe, e secretário geral do Partido Comunista da África do Sul.
O livro, soubemos ainda, relata episódios que marcaram a vida do autor ao longo das últimas quatro décadas, com destaque para os processos de negociação dos Acordos de Lusaka, em Setembro de 1974, o Acordo de Nkomati, em Março de 1984, e os contactos secretos levados a cabo com várias personalidades, incluindo líderes da RENAMO, com a finalidade de se alcançar a paz para Moçambique.
Na opinião do autor, Moçambique foi palco da confrontação Leste-Oeste que opôs, desde o final da II Guerra Mundial até ao final da década de oitenta, duas superpotências, os EUA e a URSS, acabando por sofrer de forma muito dura as consequências dessa confrontação.
Ainda de acordo com a obra de Jacinto Veloso, “nem o não-alinhamento, nem o afro-asiatismo, nem a tricontinental conseguiram fugir ao conflito, embora teoricamente todos tenham indicado os caminhos possíveis e recomendáveis para o contornar e assim defender, em primeiro lugar, o interesse nacional de cada Estado.”
Inevitavelmente, o conflito bipolar instalou-se na África Austral e Moçambique não teve como escapar. O capim sofreu com a “luta dos dois elefantes”.
“Angola e Moçambique devem ter sido os países que mais sentiram as consequências dessa confrontação brutal”, escreve a dada altura o autor.
“Memórias em Voo Rasante” é um livro que irá despertar curiosidade e interesse pelas revelações que contém, algumas inéditas como pudemos apurar.
Em 1963, o general Jacinto Veloso era um oficial da Força Aérea Portuguesa piloto aviador e estava no Norte de Moçambique (Mueda e Mocímboa da Praia). Nessa altura, o movimento pela independência de Moçambique já estava a fervilhar. Eduardo Mondlane, na companhia da mulher, tinha visitado Moçambique em 1961. A FRELIMO já tinha sido fundada.
Samora Machel trabalhava no Hospital Central de Maputo (então Hospital Miguel Bombarda) e era já conhecido como líder político. Quando João Ferreira foi preso pela PIDE foi Samora Machel que o tratou. Este contacto entre os dois permitiu que eles conseguissem combinar os seus planos de fuga juntos.
SAVANA - 20.10.2006