“O diálogo e o pacifismo militante é o meu caminho e dos meus camaradas de luta. Prossigo a minha rota apesar dos insultos, ataques e provocações. Para atingir esse objectivo a minha vida darei”.
Na terra onde dentro de dias – mais precisamente de sexta-feira em diante e até 14 de Novembro – vai ter lugar o 9.º Congresso da organização política que deliberou que lhe fosse tirada a vida – a crer-se em diversas fontes da Frelimo, designadamente no coronel Sérgio Vieira – Joana Semião escreveu – há mais de 32 anos – ao seu então marido, hoje membro da Assembleia Municipal de Inhambane pela bancada da Renamo. Em papel timbrado do «Hotel Chuabo» ela começava assim:
“Quelimane, 27 de Junho de 1974”
“Francis,
Após os dias de reflexão que me impus, tomei a seguinte decisão: Vamo-nos divorciar.
Entendo ser este o caminho mais honesto a seguir vis-à-vis de nós próprios.
Nós nos fizemos um casal. Cada um de nós tem as suas próprias opções quanto ao papel a desenvolver dentro do momento político de Moçambique.
Não somos inimigos, mas equacionamos esse problema de uma maneira contrária.
Desde a recepção de tua resposta iniciarei mecanismo de dissolução do laço matrimonial.
Apesar de teres tido a força de ir informar ao proprietário da casa que ias abandoná-la (não acreditaste quando te disse tê-lo informado por escrito) eu serei a responsável única da casa no caso de a abandonares.
Mas para tal preciso de saber a tua verdadeira posição.
O meu sobrinho, aliás, permanece na casa.
O amor só tem sentido quando os dois amorosos prosseguem objectivos leais ou mesmo idênticos. Esta é a verdade basilar «saeculu saeculorum».
Segui as tuas tendências em direcção da chamada comunidade negra que na minha maneira de ver contraria a tendência do mundo actual de dissoluções de fronteiras. O que não significa o abandono, o sacrifício das intenções ... da maioria negra de Moçambique suporta, acima de tudo, inventar fórmulas novas tendentes a chegar ao mesmo fim.
Eu acredito que a geopolítica da África Austral vai, mais a estratégia de interesses colossais, exigir que os responsáveis do «status quo» político procedam gradualmente.
O dialogo e o pacifismo militante é o meu caminho e dos meus camaradas de luta.
Prossigo a minha rota apesar dos insultos, ataques e provocações. Por atingir esse objectivo a minha vida darei.
Quanto a ti como moçambicano lute livremente pelas tuas próprias convicções.
Não foste o companheiro nas horas duras.
Aguardo tua resposta para dar começo ao processo de dissolução.
Não falo como tua inimiga, respeito-te, mas tornou-se impossível a vida comum entre nós. Pense e decida.
Escrevi a informar a tia Luzcemina e ao teu pai.
Saudações amigas. Joana Simeão”
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 07.11.2006