Maputo - A existência ou não da "feminização na escrita literária" marcou o início do segundo encontro de escritores Hispano-Africano, que desde terça-feira até sexta-feira irá debater, em Maputo, o papel da "mulher criadora e protagonista da literatura".
O evento, que discutirá igualmente "a importância da literatura escrita por mulheres", contou hoje com a participação dos escritores moçambicanos Mia Couto e Paulina Chiziane e o espanhol Ramón Lobo.
Cerca de uma dezena de escritores hispânicos e africanos pretendem promover o diálogo inter cultural e criar um foro de debate e intercâmbio de opiniões, com o objectivo de entender a cultura como valor fundamental para a coesão social e factor de desenvolvimento.
Numa mesa-redonda, Paulina Chiziane criticou alguns escritores moçambicanos, sem os nomear, pela abordagem que fazem em torno da imagem da mulher, que são retratadas como "as dominadas".
Paulina Chiziane, a primeira escritora moçambicana a publicar um romance no país, lamentou o tratamento "desigual" nos escritos dos autores moçambicanos, referindo que a mesma abordagem é feita no cinema e na música moçambicanas.
"Quando se escreve sobre a mulher, ela é um lugar de prazer", mas, "quando se escreve sobre o homem, trata-se daquele vilão", acusou a autora do "Niketche. Uma história da poligamia", uma obra que retrata a vida da mulher moçambicana, publicada em 2002.
Para o escritor moçambicano Mia Couto, falar da escrita feminina e da mulher na literatura "são coisas diferentes", mas reconheceu "a dificuldade de o escritor distanciar-se de um discurso dominante", durante a produção de uma obra literária.
Todavia, disse, "essa violência que marca o quotidiano dos moçambicanos tem de ser lembrado" de modo a minimizar o seu efeito.
Já o escritor espanhol Ramón Lobo defendeu não existir uma literatura feminina, mas "etiquetas que as editoras colocam para que as obras interessem mais às mulheres" leitoras. "Entendo que as editoras colocam essa etiqueta para que as obras interessem mais às mulheres. Creio que a literatura pode ser escrita por muçulmanos, cristãos ou ateus", disse. Até à próxima sexta-feira, os escritores moçambicanos Mia Couto, Paulina Chiziane, Juvenal Bucuane e João Paulo Borges Coelho, bem como o professor moçambicano da literatura Nataniel Ngomane, vão realizar diversas mesas-redondas e palestras, para analisar a importância da literatura escrita por mulheres.
Além de Ramón Lobo, do lado espanhol, participarão os escritores Ana Alonso e Ana María Matute, enquanto do Benim estará presente a escritora Agnès Agboton e de Marrocos Larbi El Harti.
LUSA – 22.11.2006