À Esquina da Memória
Por João Coito
«Foi o Dia de Finados mais triste de toda a História de Portugal.
A barragem de Cahora Bassa, que um dia Gago Coutinho, então a delinear os limites de Moçambique de bordo do seu avião, visionou naquela garganta do Zambeze, e que Salazar decidiu construir, foi agora "oferecida" ao governo de Maputo por meia dúzia de patacos! Até a primeira "tranche" do miserável pagamento é constituída pelos lucros da barragem ainda portuguesa ao fornecer energia eléctrica à Africa do Sul! Sócrates chamou a isto "um acordo com a História, um acordo com o futuro!" O secretário da Cooperação foi ainda mais eloquente: "vai-se uma pedra no sapato"»Não sei se repararam que o Sol, logo no princípio da semana que passou, começou a fazer negaças, como se quisesse esconder o rosto de algo triste que nesta terra se passava. Até que chegou o Dia de Finados. Então o céu cobriu-se de nuvens escuras, e uma chuva miudinha, persistente, ainda mais triste do que as tristes lembranças de quantos jazem nos cemitérios, caiu como se fossem lágrimas e mágoas sobre o Portugal que nos ficou... Lá de longe, da linda cidade que edificámos nas margens do Índico, vinha a notícia lúgubre, plangente, derradeira, da entrega de Cahora Bassa nas mãos do governo moçambicano.
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