Próximo congresso do partido maioritário em Moçambique será uma farsa para legitimar os poderes absolutos do presidente
A subserviência, o medo crescente em relação ao «camarada presidente», à disciplina partidária, o unanimismo imposto e o receio de perder o tacho ou as benesses vão marcar o próximo congresso da FRELIMO, que, nos próximos dias, terá lugar em Quelimane, província da Zambezia, Norte - Centro de Moçambique. De duas coisas tem-se a certeza: a (re) eleição de Armando Guebuza para o cargo de presidente da FRELIMO e o facto de os congressistas contribuírem para o congresso de forma muda e calada, votando na continuidade, o que vai caucionar a situação que se vive presentemente na pátria de José Craveirinha e de Noemia de Sousa, aonde o sol político começou a bilhar no dia 25 de Junho de 1975. A tudo isto poder-se-ia dar vários títulos, mas nenhum como este que lhe assenta como uma luva: A farsa de Quelimane!
Por Jorge Eurico, enviado especial em Maputo
O IX congresso da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) a ser realizado de 10 a 14 de Novembro de 2006, na cidade de Quelimane, capital da Zambézia, tem como objectivo cardeal (re) eleger Armando Guebuza como presidente do partido no poder deste País lusófono situado na costa Oriental de África, também conhecido como “Pérola do Índico”.
Com a (re) eleição garantidamente segura pelos delegados ao IX conclave, Armando Guebuza - de acordo com uma pesquisa e análise feita recentemente pelo jornalista Xavier de Figueiredo, do “África Monitor Intelligence” - vai preencher nos próximos tempos o aparelho com aliados e pessoas da sua inteira confiança com vista a reduzir as influências do seu predecessor, Joaquim Chissano com quem mantém uma relação cínica, inamistosa mesmo.
Depois da sua (re) eleição para o cargo de presidente da FRELIMO pelos delegados ao congresso, Armando Guebuza vai fazer algumas remodelações no Governo, a começar pela exoneração de Luísa Diogo do cargo de Primeira-Ministra, tida como sendo uma pessoa próxima de Joaquim Chissano.
Para substituir Luísa Digo aponta-se, embora em surdina, o nome de Aiuba Cuereneia, ministro da Planificação e Desenvolvimento, referenciado bastas vezes como sendo um governante de confiança e grande estima de Armando Guebuza.
O SISE e os dias de medo
Entretanto, o actual presidente da República moçambicano é, segundo fontes geralmente bem informadas, acusado por diversos sectores locais e internacionais de estar a restabelecer o velho papel controlador do Estado e da sociedade civil que a FRELIMO exerceu nos anos puros e duros de partido único.
Políticos da oposição e vários seguimentos de Organizações da Sociedade Civil (OSC) moçambicana têm apontado o dedo à FRELIMO como estando a reactivar (se é que vez alguma foram descativados) as suas células em serviços públicos, empresas estatais, às quais foram atribuídas antigas práticas de controlo, aliciamento e coacção.
O clima de medo volta a pairar em Moçambique, tendo em conta a "ortodoxia" política de Armando Guebuza, apontado como um sendo um homem que «não brinca em serviço» quando os seus interesses pessoais e da FRELIMO estão em causa.
O regresso do medo a Moçambique, para lá do sindicato do crime que actua de forma impune nas ruas de Maputo, deve-se à informação, por exemplo, do Serviço de Informações e Segurança de Estado (SISE) ter aumentado a sua capacidade técnico-operativa com dois aumentos sucessivos do seu orçamento.
O SISE voltou a concentrar a sua acção especialmente no controlo da oposição política e de outros meios internos da sociedade que a FRELIMO tem como contrários à sua filosofia de governação.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 29.10.2006