Olá Damião
Como vais tu, meu velho amigo? Tudo bem lá em casa?
Do meu lado está tudo normal.
Escrevo-te hoje por causa de uma notícia que li no último número do DOMINGO. Dizia aquele jornal que um grupo de comerciantes ofereceu 60 000 preservativos para serem usados durante o Nono Congresso da FRELIMO.
60 mil! Sessenta mil !
Ora, em números redondos, fala-se de que terão estado em Quelimane cerca de 3 000 pessoas. Estás, portanto, a ver, meu caro, que isto dá 20 preservativos por cada um dos delegados, convidados, jornalistas e outros envolvidos.
Como o Congresso durou 4 dias, as mesmas contas dizem-nos que cada um dos 3 000 recebeu 5 preservativos para usar por dia.
E nem estou a pensar em que parte significativa dos que foram ao Congresso pode ter usado os preservativos com outros participantes. O que faz render muito mais a reserva de cada um.
Dá que pensar.
Afinal o que é que aquela gente toda foi fazer a Quelimane?
O que estariam eles e elas a fazer enquanto a gente pensava que estavam a estudar os problemas do país?
Na longa noite das eleições, enquanto uns votavam, o que faziam os outros?
Na verdade terá aquilo sido um congresso ou uma orgia?
Estou mesmo a imaginar a cara de algumas esposas de congressistas, ao limpar os fatos dos maridos e descobrir embalagens de preservativos no bolso do casaco. E imagino as desculpas esfarrapadas do marido a dizer que recebeu aquilo lá no Congresso e não quis deitar fora.
Mas, se a minha leitora for uma dessas esposas de congressista, conte bem quantos preservativos trouxe o seu marido de Quelimane. E, se forem menos de 20, aconselho-a a perguntar que fim tiveram os que faltam para atingir esse número.
É bem certo que, ao longo do Congresso, uma das palavras de ordem foi de reforçar a unidade nacional.
E que há actividades que reforçam essa unidade de forma extraordinariamente agradável.
Mas o uso desenfreado de tanta borrachinha é capaz de nos ter preservado de maiores misturas entre as diferentes regiões do país, tribos, raças e religiões, patrioticamente representadas em Quelimane.
O que pode ter sido o desperdiçar de uma boa oportunidade.
As únicas misturas que não deve ter havido, pelo menos em quantidades significativas, é entre diferentes classes sociais, dado que os congressistas pareciam ter saído todos da mesma camada: a média e alta. Os operários e camponeses foram preservados de lá irem, para não estragarem a festa daqueles senhores e senhoras.
Enfim, meu caro Damião, que ao menos eles não tenham andado a passar uns aos outros a SIDA e as DTSs já foi uma coisa boa. Porque outras doenças contagiosas, como a corrupção e a roubalheira ainda não encontraram preservativo que impeça o contágio.
Por enquanto parece que ainda não há jeito de se acabar com elas.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) - 23.11.2006