Ao longo de três décadas, Almeida Santos foi acusado de ter vendido bens e transferido depósitos para a Metrópole e para bancos suíços, por saber de antemão o que se ia passar em Moçambique.
"Nunca vendi nada em Moçambique - nem antes nem depois do 25 de Abril, à excepção de um pouco valioso terreno nos subúrbios da capital, para o qual, muito antes do fim, surgiu um proposto comprador", garante no livro. "Está lá tudo registado em meu nome nas correspondentes conservatórias. Os imóveis, nacionalizados. As participações sociais, em regra desvalorizadas, nem isso." E desafia: "Se vendi o que tinha, onde estão os compradores?"
Quanto à transferência de bens, diz que terá sido, provavelmente, "o único residente de Moçambique que não trouxe tudo quanto podia trazer". Para Lisboa, apenas despachou as mobílias da residência e do escritório, os livros e um dos dois carros que possuía, "por sinal o menos valioso, mas que gastava menos combustível".
Declara igualmente que nunca teve contas na Suíça. Com a mesma veemência com que escreve que os honorários por si cobrados da "intensa advocacia" que tinha no exterior - "na Metrópole, na África do Sul, em Londres, inclusive" - eram investidos "na Metrópole".
Para a resposta às acusações de carácter político - em particular as que se referem à sua co-responsabilidade na "entrega" de Moçambique à Frelimo - , faz uso da arma da ironia: entre o Acordo de Lusaca (de que foi signatário, com Mário Soares e Melo Antunes) e o Programa com o mesmo nome proposto por Jorge Jardim (que foi seu amigo e sócio antes de se incompatibilizarem) ao MFA, "venha o diabo e escolha".
A.G. - PÚBLICO - 28.11.2006