A resistência armada é uma realidade cada vez mais incómoda para Luanda. A PNN entrevistou Maurício Lubota Sabata, comandante operacional da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda/Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC) numa das circunscrições militares da região do Miconje, Cabinda. O militar garantiu que, contrariamente às «informações que circulam», a FLEC permanece com «toda a capacidade de movimentar as suas tropas na região» em acções «coordenadas e dirigidas por Estanislau Miguel Boma, Chefe de Estado-maior das FAC».
O comandante das FAC reconhece que a resistência teve de mudar radicalmente as suas estratégias no terreno, face ao aumento permanente de efectivos militares angolanos: «Quando nos deparamos com cerca de 45 mil homens contra nós, tivemos de mudar as estratégias, e cada dia e cada hora temos uma
nova estratégia», explicou Maurício Lubota Sabata, que acrescenta, «nós combatemos consoante a condição que temos, somos uma armada do povo, uma resistência activa que defende o seu povo, só assim podemos fazer face ao inimigo».
Para Sabata as tropas angolanas em Cabinda, além de continuarem a «tentar combater a resistência, estão também a preparar já as eleições», ou seja, a «persuadir as populações a votarem no MPLA».
Em referência às recentes acções promovidas por António Bento Bembe, Mauricio Lubota Sabata afirma os acordos pretenderam apenas a «integração total de Cabinda» a Angola e acrescenta que no «seu terreno» não conhecem Bento Bembe.
«Depois da reunião da Holanda, estava previsto que ele viesse aos `maquis´, mas ele nunca veio nem ninguém da sua equipa apareceu», disse. Para Sabata, se «Bento Bembe quisesse realmente ter mantido a unidade e a participação de todos na construção da paz», não seria difícil, «teria apenas de passar pelos canais necessários», Estanislau Boma como Chefe de Estado Maior e «especialmente pelo presidente da FLEC, Nzita Tiago». «Nós consideramos Bento como um traidor», afirmou o mesmo comandante, que acusa Bento Bembe de ter «profanado a terra de Chicamba quando aí assinou o cessar-fogo com Angola».
«Chicamba é para nós uma terra sagrada onde os nossos antepassados assinaram tratados com os portugueses», sublinhou o Comandante Sabata.
Mauricio Lubota Sabata defende também que «se o governo angolano estivesse realmente disposto a se sentar na mesma mesa, todas as vozes válidas e as igrejas de Cabinda» poderiam contar que «Nzita Tiago e Estanislau Boma aceitariam negociações, mas em condições normais». As «FAC são pelo diálogo e pela paz», sublinha. «Se fazemos a guerra é porque somos forçados a fazer, mas estamos dispostos para a paz», acrescenta. Neste contexto, Sabata afirma ainda que os resistentes, como militares, depositam «toda a confiança no líder» e aguardam que «Nzita Tiago ordene a Estanislau Miguel Boma» para «dar novas instruções». «Caso isso não aconteça», prossegue o responsável militar, «vamos continuar a combater até ao último homem».
O militar considera que a «integração dos efectivos da FLEC Renovada nas FAA não vai prejudicar a acção das forças armadas da FLEC no terreno», dado que «eles fazem agora parte dos adversários e são inimigos como os outros».
Em referencia aos efectivos que estão a ser «acantonados» em Cabinda, em respeito do Memorando de Entendimento, Maurício Lubota Sabata afirma que «essa tropa que o Bento fala são congoleses recrutados para esse efeito, que se apresentam como combatentes da Renovada».
O Comandante Sabata garantiu por fim que a FLEC está militarmente operacional e presente em todo o território de Cabinda. «Todos os dias há patrulhamentos e ataques», adiantou, afirmando que é devido a esta actividade que «os angolanos já não sobrevoam as regiões do Baixo e Alto Sundi com helicópteros», dado que «os militares das FAA sabem que a FLEC tem capacidades de os abater, tal como já o fizemos». Acrescenta ainda que o movimento permanece com uma actividade «defensiva, ofensiva e estratégica». O comandante refuta «todas as tentativas de associarem a FLEC a terroristas» e
lamenta que «alguns que avançam com esse tipo de afirmações, esqueceram como foi interpretada a detenção de Artur Tchibassa, que permanece na prisão, num caso ao qual os mesmos delatores estão associados».
Rui Neumann
(c) PNN Portuguese News Network - 09.12.2006