- Dom Jaime Gonçalves
“O que é construído na justiça tem estabilidade”
O arcebispo da Beira, Dom Jaime Gonçalves, falando por ocasião das festas religiosas do Natal, disse que “há países em África, que aprovam leis injustas”. Aquele responsável da igreja católica na província de Sofala e proeminente figura das negociações que em Roma permitiram a Paz de que hoje se usufrui em Moçambique, lançou entretanto um apelo aos políticos africanos para que abandonem tais práticas.
“Escrevem-se leis que favorecem a injustiça, então, também as mesmas não são respeitadas como leis”, disse.
Dom Jaime não fez menção de qualquer país para exemplificar onde essas práticas dos governantes e de quem está no poder acontecem. Não deu exemplos concretos de países onde, a aprovação das alegadas “leis injustas”, acontece.
Contudo, aquele clérigo disse haver a necessidade de vários sectores da sociedade em África caminharem na promoção da justiça social e na valorização da reconciliação para garantir a justiça. “Porque, o que é construído na injustiça, não tem futuro”.
O prelado apontou África como sendo um continente de conflitos. Justificou ser por essa razão que os bispos desta parcela do mundo estão a preparar uma Assembleia que se prevê realizar em 2009 com a denominação “sínodo dos bispos em Roma”, precisamente para se debater as problemáticas existentes no continente.
«Missa do Galo»
Na chamada «Missa do Galo» que a Igreja Católica promove tradicionalmente na noite do dia 24 em celebração do nascimento de Jesus Cristo a 25 de Dezembro – Natal, o Arcebispo da Beira, Dom Jaime Gonçalves, voltou à carga com o tema relativo à intranquilidade em África. Repisou a teoria de que os políticos são os principais mentores de instabilidade no continente, e que a reconciliação entre si seria a melhor maneira de resolver os problemas existentes no continente.
“Os poderes políticos oprimem outros dentro do seu próprio país, recusando-lhes a liberdade, recusando-lhes a igualdade de desenvolvimento, e desenvolvendo todas as fórmulas de oprimir, de limitar a liberdade, as possibilidades de ensino e as possibilidades de se desenvolver”.
Na sua homilia de Natal, o prelado já exemplificou com o caso da Costa de Marfim, país que ele disse ter vivido dois momentos distintos – um bom, outro péssimo como se sabe – precisamente por os políticos locais não terem sabido manter o ritmo da Paz de desfrutada e que de repente se desfez quando já era tarde demais para evitar a desgraça a que hoje não se consegue pôr termo.
“Era um país belo, desenvolvido e que era estrela em Africa, mas eles desenvolveram uma parte e outros ficaram desprezados e agora os desprezados se levantaram a exigir o desenvolvimento, agora está a guerra que lemos nos jornais quase todos os dias. São anos de morte, de perseguição, anos de armas. Era um país belo. Eu vi nas duas fases”.
Dom Jaime disse depois que a igreja traz consigo um evangelho de Justiça e de Paz. “A Paz é saborosa”, lembrou.
O que é construído na injustiça não tem futuro
“A igreja é um valor do Natal e é importante na libertação deste continente. É tão importante que nós juntos fazemos questão de lembrar que o que é construído na injustiça não tem futuro. Pode durante algum tempo fazer sofrer as pessoas, mas não tem futuro de estabilidade. O que é construído na justiça tem estabilidade .”
Para o arcebispo da Beira, “o valor da justiça é importante para os africanos”.
“Escutar a voz da justiça na organização da sua sociedade, nos seus vários sectores; político, trabalho, combate à pobreza, é importante”, diria arcebispo numa outra passagem da «Missa do Galo».
Dom Jaime salientou depois que neste Continente, praticamente não há sossego, e os conflitos nunca acabam “na medida em que acaba num lugar, e inicia-se noutro”.
“Por exemplo há países que conseguiram reconciliar-se e há outros que começaram a não reconciliar-se”.
“Quando recusamos o diálogo, a reconciliação, passamos todos a viver com medo, passamos nós a viver tristes”.
“É por isso que ao nosso nível, na nossa experiência, o valor da reconciliação, entre nós os moçambicanos, é de libertação. É muito importante!”.
“É importante o diálogo”, repisaria nisso o arcebispo.
Dom Jaime falou também das qualidades especiais da paz e reconciliação, referindo que “a paz é tão saborosa para a sociedade, segundo a nossa experiência, que de facto não podemos perdê-la, assim, vamos todos juntos escutar, de facto, a voz de Cristo que nasce no dia do Natal, que proclama a paz, escutar a voz dos anjos, que anunciam a paz dos homens amados por Deus e escutar a voz da igreja em África, que está a estudar a proclamação da construção da Sociedade Africana na Paz”.
Dom Jaime Gonçalves disse ainda que há vários outros aspectos que concorrem contra a paz em África, como é o caso de conflitos de carácter social, que se manifesta pela desordem, opressão, perseguições políticas, prisões injustas e descriminação.
Para o Arcebispo Jaime Gonçalves, em África está muito acentuada a descriminação que vem desde a tribo, a etnia e a raça. As pessoas que descriminam, segundo aquele prelado, seguem isso “como critério de vida, de organização de sociedade e critério do valor da sociedade”.
“Isso não pode ser, porque é contra a paz”, concluiria o Bispo da Beira.
(Edy Ndapona) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 27.12.2006