ANA DIAS CORDEIRO
Portugal desempenhou "um papel preponderante" e "muito subestimado" na facilitação de negócios de petróleo para os chineses em África, que vêem Lisboa como "uma porta de entrada para o sector petrolífero africano". A observação de Warwick Davies-Webb, analista político de uma empresa de consultoria e análise de risco sobre o continente africano na África do Sul, Executive Research Associates, foi apresentada no African Center for Strategic Studies, agência ligada ao Governo americano em Washington, em Setembro.
Nessa palestra sobre a estratégia de Pequim em África, citada numa publicação ligada ao Departamento de Estado dos EUA, o analista sul-africano apenas aflorou as "ligações estratégicas" entre Pequim e
companhias e bancos portugueses com influência em países como Angola.
Ontem por telefone, Davies-Webb salientou ao PÚBLICO o caso da Eskom, empresa do Grupo Espírito Santo, com um papel preponderante de ligação entre Pequim e o poder em Luanda, junto do qual a
instituição portuguesa tem influência.
Nos vários níveis em que os chineses actuam - económico, militar, político, comercial - o caso da Eskom mostrou que "pela via dos negócios se estabelecem ligações ao poder político", explica. "Pessoas influentes no poder confundem-se com as que estão em cargos-chave dos negócios. É uma zona cinzenta e uma situação muito complexa", diz sem dar mais pormenores. Por outro lado, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e Portugal, como "pilar" da organização, serviram "para acelerar a influência da China nos países de língua portuguesa", diz.
Este investigador recorda que durante a visita a Portugal do primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, em 2005, José Sócrates declarou que Portugal se podia "afirmar como parceiro da China em África". Até há pouco tempo embaixador da China em Lisboa, Ma Ehan "fez muitas diligências" nesse sentido.
"A China vê Portugal e a CPLP como pontos estratégicos de acesso a esses mercados", sintetiza. Portugal, por sua vez, tem a ganhar "prestígio" e não só. A China é um importante aliado a ter em
fóruns internacionais onde se discutem questões também relativas de língua portuguesa. "Há níveis múltiplos de interesses", conclui. E salienta que Macau também serve de plataforma entre China, África e Portugal.
PÚBLICO - 12.12.2006