A China, país que o primeiro-ministro português, José Sócrates, visita oficialmente a partir de terça-feira, marca presença crescente em Moçambique, com investimentos em diversas áreas que pontualmente convergem com interesses portugueses.
A importância crescente do país para Pequim é, de resto, demonstrada pela inclusão de Moçambique no périplo por oito países africanos que o presidente chinês, Hu Jintao, inicia terça-feira (a data da visita a Moçambique ainda não f oi anunciada).
Em Moçambique, empresas chinesas actuam já em múltiplas áreas de actividade, desde a construção e reconstrução de infra-estruturas à exploração de mine rais como cobre e carvão ou à produção de alumínio.
Por toda a capital moçambicana, são visíveis exemplos da presença econó mica chinesa: o recém-construído edifício do Ministério dos Negócios Estrangeiro s e da Cooperação, o centro de conferências Joaquim Chissano ou o projectado est ádio nacional nos arredores de Maputo, com capacidade para 42 mil pessoas, orçad o em 30 milhões de euros.
A construção de "obras de aparato e de regime" tem sido a face visível da presença chinesa em Moçambique, como caracterizou, em declarações à agência L usa um observador da realidade moçambicana.
No entanto, Pequim dá sinais de querer entrar de forma mais "musculada" na economia do país, em especial na energia, sendo paradigmático o exemplo do p rojecto de construção da mega-barragem de Mphanda Nkuwa no rio Zambeze (o Export -Import Bank of China já aprovou, de resto, o financiamento da obra, avaliada em 1,5 mil milhões de euros).
A ser construída, a barragem terá uma capacidade de produção de electricidade de 1.350 megawatts (Cahora Bassa tem cerca de 2075 megawatts).
Com 39 rios a correrem para o Índico, Moçambique tem um dos mais elevad os potenciais de produção de energia eléctrica da África Austral, estimando-se q ue possa produzir até 12 mil megawatts de energia eléctrica (o país consome apen as 350 megawatts).
"É um sector lucrativo, onde o investimento que for feito terá retorno" , notou o mesmo observador.
Segundo diversos analistas, o objectivo da aproximação da China aos países africanos é assegurar o acesso seguro e preferencial aos recursos naturais d o continente, ao petróleo em particular.
Em 2005, a China importou 38 milhões de toneladas de petróleo de África (30 por cento do total do petróleo importado pelo país), um número que deverá aumentar com o desenvolvimento da economia do país, a quarta maior do mundo, a cr escer anualmente mais de 10 por cento.
A China está também atenta às importantes jazidas de carvão e gás exist entes no país, mas neste sector específico, Pequim enfrenta a concorrência dos b rasileiros, em especial da empresa Vale do Rio Doce, que está em vias de ganhar a concessão para a exploração de carvão mineral em Moatize, em Tete (centro).
No sector das obras públicas, empresas chinesas como a China Henan Inte rnational Cooperation Group marcam também forte presença, sendo emblemática a re construção da ponte da Moamba (Maputo), uma empreitada que deverá estar pronta e m 18 meses e deverá custar 6,1 milhões de euros.
A mesma empresa está já a trabalhar na reabilitação da estrada nacional 6, que liga a cidade da Beira à vila de Machipanda (província de Manica).
A implantação chinesa na economia moçambicana tem conhecido, no entanto , alguns sobressaltos, de que são exemplo casos de corte ilegal de madeira (recentemente foram apreendidos em Cabo Delgado, no extremo norte do país, 47 contentores repletos de madeira preparados para ser ilegalmente exportados).
Esta crescente implantação não tem colidido, até aqui, com interesses portugueses, verificando-se até casos de convergência, de que é exemplo a sociedade de investimentos e gestão Mozacapital, uma holding fortemente implantada no país e em que se cruzam personalidades como o empresário macaense Stanley Ho, o economista moçambicano e ex-governador do Banco de Moçambique Prakash Retilal e o português Jorge Ferro Ribeiro, da sociedade de investimentos Geocapital.
A intenção de Stanley Ho de investir no sector financeiro em Moçambique em parceria com investidores portugueses, lançando novas instituições ou adquirindo bancos já existentes, chegou, de resto, a ser noticiada (a análise de mercado estaria a ser desenvolvida pelo Banco Seng Heng, instituição detida a 100 por cento pelo empresário macaense).
Mas tal como em outros países africanos, a China está presente também em Moçambique por via da atribuição de empréstimos preferenciais e da inclusão do país num fundo sino-africano de desenvolvimento para uso de empresas.
No início de Novembro, na primeira cimeira de líderes do Fórum de Cooperação Sino-Africana (FOCAC, na sigla em inglês), que reuniu em Pequim 48 chefes de Estado e Governo de países africanos, Hu Jintao prometeu que a China duplicar á até 2010 as trocas comerciais com os países de África e que nos próximos três anos concederá empréstimos e abrirá linhas de crédito à exportação avaliadas em cinco mil milhões de dólares.
Na sua visita a Moçambique, no início de Fevereiro, o Presidente chinês deverá anunciar, de resto, novos planos de ajuda a Moçambique, dinheiro que ser virá para impulsionar as trocas comerciais entre os dois países (a China registou em 2005 um excedente comercial com Moçambique de cerca de 12 milhões de euros) .
Paralelamente, a agricultura é outro sector em que vários analistas prevêem a entrada da China, até porque durante a sua visita a Moçambique Hu Jintao vai inaugurar um Centro Especial de Demonstração de Tecnologia Agrícola, parte dos dez que Pequim irá construir em África.
"A presença chinesa vai aumentar em Moçambique, tal como no resto de África", previu, em declarações à agência Lusa, um observador em Maputo, antevendo, no entanto, que a curto prazo "não terá a mesma magnitude" que noutros pontos do continente, em especial em Angola.
Agência LUSA - 29.01.2007