Chefe do estado-maior da FLEC
Cabinda - Estanislau Miguel Boma, chefe do estado-maior da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), em entrevista ao Ibinda.com condena a acção de Bento Bembe, afirmando que é uma «ilusão» pensar que a guerra acabou em Cabinda e que a resistência «está disponível para negociar a paz» em Cabinda, desde que esta seja «franca e transparente».
«A guerra continua em Cabinda, e a guerra vai prosseguir porque é a nossa única forma de afirmação» afirmou Estanislau Miguel Boma, em entrevista ao Ibinda.com. «As FAA pensaram que nos conseguiriam suprimir, mas nós continuamos a resistir» e avança que «hoje, há um debate no seio da classe política angolana, sobre como acabar com a guerra em Cabinda e o prosseguimento das ofensivas militares». No entanto, segundo Estanislau Boma, existem «fortes interesses» que contribuem para prosseguir com a guerra no enclave, e acusa «altas patentes das FAA» de «enriquecem com esta guerra» considerando que «para eles, a vida dos angolanos que morrem na guerra em Cabinda não tem qualquer valor». O chefe de estado-maior da FLEC afirma que os militares angolanos «pensavam que militarmente poderiam acabar» com a resistência, mas é «uma pura ilusão». «Nós somos cabindas e como cabindas continuaremos, a qualquer preço, a resistir contra a neocolonização angolana» disse Estanislau Boma.
Para o mesmo militar da FLEC os acordos assinados em Chicamba e no Namibe com o Governo de Angola não «marcaram o fim da guerra em Cabinda» dado que «Bento Bembe pretendeu ter o controlo dos resistentes que estão nas matas a combater» mas «não conseguiu calar as armas, porque não controla a resistência armada».
Devido à situação de guerra vivida no enclave o chefe de estado-maior da FLEC alertou também para a insegurança das empresas estrangeiras presentes em Cabinda: «Já muito falámos sobre as empresas que exploram Cabinda e que estão a sustentar a guerra com cumplicidade do Governo do MPLA. Nós já apelámos e continuamos a apelar que essas empresas, tanto petrolíferas como quaisquer outras, deveriam compreender que em Cabinda a guerra ainda existe e enquanto a guerra existir a segurança dessas empresas não está garantida. Onde há guerra não há segurança» disse, citando vários combates que ocorreram em Novembro de 2006 e Janeiro de 2007 nas regiões de Belize, Buco Zau, Miconje e
Dinje. «Um empresário poderá ser surpreendido a qualquer momento, e caso aconteça uma fatalidade o MPLA vai tentar sempre incutir as responsabilidades à FLEC», acrescentou ainda.
Em seguimento às declarações de António Bento Bembe quando ameaçou «capturar e levar à justiça» a resistência Cabinda, Estanislau Boma, chefe do estado-maior da FLEC, declarou ao Ibinda.com que o que se está a viver é um «conflito entre cabindas» e acrescenta que este «comportamento hediondo não resolve o problema, e só pode complicar a solução». Em referência aos rumores que circulam que sugerem que este militar, assim como outros chefes da resistência, é «procurado» por Angola, o responsável da FLEC qualifica-os de «manobra de diversão» e «manifesta internacional confusão».
Relativamente ao Fórum Cabindês liderado por Bento Bembe, Estanislau Boma afirma que o Governo de Angola «vê o Fórum como uma organização política ou militar que prima sobre a FLEC e sobre a sociedade civil». Todavia, segundo o mesmo responsável, o Fórum é «uma comissão “ad hoc” e só pode agir com a autoridade conjunta da FLEC e da sociedade civil e estes deveriam ter dado aval a Bento Bembe, o que nunca aconteceu». Realça ainda que as hostilidades que opõem as forças armadas cabindesas e as FAA são o reflexo que o FCD de Bento Bembe «não tem qualquer autoridade para negociar um cessar-fogo. O mesmo responsável militar acusa também Bento Bembe de integrar os aquartelamentos, supostamente destinados a guerrilheiros da FLEC, «antigos comandos vindos das FAA, que não estão activo, mas que regressam para fazerem o número de efectivos avançados por Bento Bembe».
«Durante 32 anos Angola não conseguiu fazer desaparecer os resistente de Cabinda, não é hoje que poderão conseguir, mesmo com o apoio de Bento Bembe» garantiu o chefe militar que impõe como condições para o fim do conflito «negociações francas e transparentes com aqueles que sempre
encabeçaram a resistência armada em Cabinda».
«Todas as iniciativas de paz ou negociações francas para o fim da guerra em Cabinda, serão bem-vindas para nós» avançou Estanislau Boma.
Segundo o mesmo militar, um cessar-fogo com Angola terá de ser estabelecido «directamente com o chefe de estado-maior das forças armadas cabindesas em conformidade com as instruções da direcção política da FLEC» e acrescenta também que o Fórum «não tem qualquer autoridade para desmobilizar as forças da FLEC». Para o Chefe de Estado-maior da FLEC o Memorando e cessar-fogo assinado por Bento Bembe é um pacto «entre angolanos porque o Bento Bembe foi sempre um agente do MPLA» acusou Estanislau Boma que considera que o acordo «não é a favor do povo de Cabinda nem da FLEC, que
continua a exigir negociações».
«Nós estamos preparados para o diálogo» reafirmou Estanislau Miguel Boma: «nós não somos homens de guerra» e «estamos prontos a estudar uma proposta de cessação das hostilidades» no entanto, «tudo passa necessariamente pela direcção da FLEC e com aqueles que sempre encabeçaram a resistência, mas não como o Governo angolano pretendeu fazer» afirmou o chefe de estado-maior.
«Recrutar cabindas para combaterem os seus próprios irmãos não é solução» conclui Estanislau Miguel Boma.
(c) PNN Portuguese News Network - 17.01.2007